segunda-feira, 28 de maio de 2012

Aeroportos

Sexta-feira, 20 horas. Eu estava indo buscar o Farley no aeroporto. Nunca chego no horário do pouso, porque sempre levo em conta que o passageiro tem que descer do avião, ir para a área de desembarque, retirar sua bagagem na esteira... e isso nunca leva menos de 15 minutos. Mas havia algo que não estava nos meus planos.

- Beleza, cara?
- Fala, negão! Tudo certo?
- Cara, estou preso num congestionamento no final do Eixão sul. Tudo parado no rumo do aeroporto.
- Não se preocupe. Já faz mais de 20 minutos que nós pousamos e ainda estamos presos dentro do avião.

A hora de pico da cidade já havia passado. Mas no aeroporto o horário era de movimento total (nas sextas-feiras muita gente deixa Brasília). Isso era o mais dificil de digerir: não era nenhum feriado. Era uma sexta-feira normal. Por isso mesmo, fiquei surpreso com o trânsito parado. A seis quilômetros de distância (que seriam percorridos em não menos de 40 minutos), meu amigo estava dentro de um avião à espera de que fosse liberado um portão para desembarque (em Brasília são 13, sem contar os "embarques remotos" - quando você sobe num ônibus e ele te leva até a aeronave que está parada em algum lugar).

- E essa gente ainda tem a cara de pau de falar em Copa do Mundo - foi o que falei antes de desligar o telefone.

A Copa do Mundo exige investimentos em infraestrutura. Sem evento algum, Brasília já tem um aeroporto a ponto de entrar em colapso, com um trajeto de uma hora em horário de pico (isso numa via sem qualquer semáforo). Já existe há muito tempo um projeto para aumentar os portões de 13 para 65 - mas nunca saiu do papel e nem vai sair. E ainda nem falamos da rede hoteleira, que já tem um alto nível de ocupação (especialmente de segunda a quarta-feira, período de maior movimento na política).

Mas nós, brasileiros, somos práticos. Gênios do menor esforço. A solução apontada pelo governo para evitar o colapso durante a Copa do Mundo foi simples e criativa: decretar feriado em cada cidade nos dias de jogos. Resolveremos este problema, seremos aprovados (embora sem louvor), salvaremos nossa imagem, etc.

Mas ainda existirá vida no país depois da Copa do Mundo. A demanda nos aeroportos continuará crescendo. O governo, alegremente, dirá que o caos é resultado da expansão da classe C. E, ao desviar o foco, esconderá sua completa incapacidade de planejamento.

E decretar feriados não vai mais adiantar.

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