quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Terveiset Vimpelista

O ano era 1999. Numa tarde de domingo entrei num chat internacional do mIRC e comecei a conversar. Fiz amizade com uma menina da Finlândia e passamos a trocar e-mails. 

Um belo dia chegou um envelopão à minha casa (que eu retribuí mais tarde enviando uma camiseta de Brasília). Minha amiga estava me mandando uns materiais da cidade dela, Vimpeli, além de uma foto sua. Junto veio um cartão postal, cuja legenda dizia Terveiset Vimpelista. Nunca entendi o que isso significava, exceto pelo nome da cidade (e naquela época a enciclopédia google ainda não tinha um tradutor). Jaana Koivukoski (que gostava de ser chamada de Nanuska) não sabia, mas estava mudando minha vida para sempre.

Agarrei aquele cartão postal, procurei alguns outros que pude encontrar nas minhas coisas (uns 4 ou 5) e decidi começar ali uma coleção de postais. Coleção que no ano seguinte chegou a mil cartões, graças à amiga Emeri e também a um pacotão que comprei da Paraná Cart. E que hoje, tanto tempo depois, tem catalogados 8.739 cartões postais.

Um dos meus amigos daquela época (mas não do mIRC) e cuja amizade perdura até hoje é o italiano Andrea Camporese. Todo ano, no verão do hemisfério norte, ele sai de férias, vai para algum lugar diferente e me manda um cartão postal. E hoje chegou às minhas mãos a remessa deste ano, um postal da cidade finlandesa de Turku.

Do lado direito, alguns dizeres em três línguas: finlandês, alemão e inglês, nesta ordem. Em inglês era "greetings from", em alemão "grüsse aus" e em finlandês, uma palavra que me emocionou: "terveiset".

Treze anos depois, finalmente eu entendia os dizeres do cartão postal que mudou minha vida e me fez entrar neste vício maluco neste saudável hobby de colecionar o mundo em retângulos de papel. Terveiset Vimpelista significa "saudações de Vimpeli". 

Onde quer que você esteja, Jaana, receba minhas saudações de Brasília.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

29/08/1999

Faz 13 anos que escrevi este soneto, publicado na antologia E Por Falar Em Amor.

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Queria ter-te lua, e não estrela
Na escuridão do céu da minha vida;
Queria pensar sempre em ti, querida
E em tua luz, que é mais brilhante e bela.

Eu pensava comigo: quero tê-la
E fazê-la feliz em minha lida
E fazer cada hora bem vivida;
Pra sempre amá-la, pra sempre querê-la.

Eu queria poder - agora digo -
Satisfazer cada vontade tua
E levar-te comigo a uma ilha;

Eu só queria ser feliz contigo
Mas se queres ser estrela, e não lua,
Brilha, estrelinha, brilha, brilha, brilha...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lançamento: Redação Total


Na tarde de hoje (14) o meu tio professor André Luís Cézar lança o livro "Redação Total - Os Gêneros Textuais nos Vestibulares de Hoje" (All Print Editora, R$ 39,90 comprar AQUI), na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Colo abaixo o release da editora:


Redação Total – Os Gêneros Textuais nos Vestibulares de Hoje tem a resposta para essas e para muitas outras dúvidas sobre os vestibulares atuais. Neste livro, você vai aprender a escrever com competência os principais gêneros que podem cair nas provas, tais como: Abaixo-Assinado, entrevista, artigo de opinião, manifesto, comentário, notícia e etc... Além disso, este livro traz para você as técnicas e as dicas especiais para que seu texto corresponda às expectativas dos vestibulares do tipo UNICAMP e FUVEST, bem como tabelas de conectivos e de operadores argumentativos, exemplos de textos bem construídos e propostas temáticas modernas. Tudo isso para que sua redação seja coesa, coerente, brilhante e muito competitiva, nos vestibulares e na vida!

domingo, 12 de agosto de 2012

Querido Davi...

Querido Davi,

Hoje é um dia muito significativo para mim. Do amor que Beta e eu temos surgiu um lindo fruto que, embora seja pequeno e frágil, já tem muito mais percepção do que às vezes imaginamos.

Sei que você me escuta quando eu falo; que talvez não entenda o significado das palavras, mas conhece bem o que significa o tom de voz. Eu te ensinarei a amar, mas você certamente já sente os benefícios de ser amado. O mundo discute se existe amor à primeira vista; eu já te amo muito antes mesmo de ter visto o primeiro ultrassom.

Davi, é meu dever fazer de você uma pessoa melhor. É meu dever dar-te força nos momentos de fraqueza, carregar-te em meus ombros, guiar teus passos ainda inseguros até que se tornem firmes e você possa caminhar por si próprio - tanto no sentido literal como no metafórico.

Sabe o que é mais impressionante? Sem saber disso, você estará fazendo o mesmo por mim. Pensarei em você nos momentos de fraqueza e serei mais forte (recebendo também o valioso apoio da sua mãe). E é com você que eu, ainda engatinhando na vida de pai, aprenderei na prática o que é esta responsabilidade sagrada. Você, pequeno e frágil; eu, inexperiente. Somos parecidos e construiremos nossa história juntos.

Querido Davi, estamos apenas começando a preparar teu quarto. Não me preocupa o conforto; me preocupa o amor que você receberá neste espaço. Não me preocupam os presentes que te darei um dia; me preocupa fazer de você um presente para as pessoas. Não é prioritário gastar muito dinheiro no espaço em que você vai habitar; é prioritário fazer do seu coração um lugar que Deus possa habitar.

Eu não sei quais são os bens que te darei ao longo da vida (e depois também); mas quero te dar todos os dias um bem que, apesar de abundante, é cada vez mais escasso: tempo. Porque quanto mais tempo eu te der, melhor farei o teu mundo; e, desta maneira, moldarei teu caráter para que você faça não apenas o mundo (e não apenas o meu) ser melhor. Dentro de nossas imperfeições e limitações, sua mãe e eu trabalharemos por isso investindo o tempo necessário.

Te amo muito, Davi. Obrigado por dar-me um feliz dia dos pais - o primeiro desde que cruzei esta barreira e passei a ver a paternidade a partir do outro lado.

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Davi Vicente Pedroso Castanho tem seu nascimento previsto para 23 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

70 maneiras de escrever errado

O texto não é meu, mas vale a publicação. Fala sobre um vício de linguagem que consiste em repetir uma ideia com palavras diferentes. Aí vai uma lista de 70 expressões. Você usa alguma delas? A partir de agora, com absoluta certeza Não as usarei e não voltarei atrás nesta livre escolha.

1. Elo de ligação;
2. Acabamento final;
3. Certeza absoluta;
4. Número exato;
5. Quantia exata;
6. Sugiro, conjecturalmente;
7. Nos dias 8, 9 e 10 inclusive;
8. Como prêmio extra;
9. Juntamente com;
10. Em caráter esporádico;
11. Expressamente proibido;
12. Terminantemente proibido;
13. Em duas metades iguais;
14. Destaque excepcional;
15. Sintomas indicativos;
16. Há anos atrás;
17. Vereador da cidade;
18. Relações bilaterais entre dois países;
19. Outra alternativa;
20. Detalhes minuciosos;
21. A razão é porque;
22. Interromper de uma vez;
23. Anexo (a) junto a carta;
24. De sua livre escolha;
25. Superávit positivo;
26. Vandalismo criminoso;
27. Todos foram unânimes;
28. A seu critério pessoal;
29. Palavra de honra;
30. Conviver junto;
31. Exultar de alegria;
32. Encarar de frente;
33. Comprovadamente certo;
34. Fato real;
35. Multidão de pessoas;
36. Amanhecer o dia;
37. Criação nova;
38. Retornar de novo;
39. Freqüentar constantemente;
40. Empréstimo temporário;
41. Compartilhar conosco;
42. Surpresa inesperada;
43. Completamente vazio;
44. Colocar algo em seu respectivo lugar;
45. Escolha opcional;
46. Continua a permanecer;
47. Passatempo passageiro;
48. Atrás da retaguarda;
49. Planejar antecipadamente;
50. Repetir outra vez;
51. Sentido significativo;
52. Voltar atrás;
53. Abertura inaugural;
54. Pode possivelmente ocorrer;
55. A partir de agora;
56. Última versão definitiva;
57. Obra-prima principal;
58. Gritar/ Bradar bem alto;
59. Propriedade característica;
60. Comparecer em pessoa;
61. Colaborar com uma ajuda/auxílio;
62. Com absoluta correção/exatidão;
63. Demasiadamente excessivo;
64. Individualidade inigualável;
65. A seu critério pessoal;
66. Abusar demais;
67. Exceder em muito;
68. Preconceito intolerante;
69. Medidas extremas de último caso;
70. A nível de ...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Cicinho e os erros do repórter

Começou quando o Allan me mostrou um texto do Globo Esporte com dois erros daqueles que pulam na nossa frente quando a gente lê ("don" e "copmigo"). Aí falei que estava curioso para ler o texto inteiro, prevendo que ele todo fosse ser ruim. E não é que estava certo? Eu queria escrever sobre isso ontem à noite, mas meu time perdeu eu estava indisposto. Agora de manhã vários erros já foram corrigidos (inclusive os dois já mencionados).

Ainda assim, fazia tempo que eu não lia algo tão mal escrito. A matéria conta a história de Cicinho, um talento desperdiçado. Quando esteve no São Paulo foi o melhor lateral direito do Brasil. Depois foi para o Real Madrid (não mais o "galáctico", mas sim o "sul-americano", comandado pelo Vanderlei Luxemburgo e com a presença de algumas tranqueiras como os uruguaios Carlos Diogo e Pablo García) e a partir daí a carreira dele só regrediu. Até que encontrou o grande amor e hoje está no... mmm... é, está no Sport.

Sem perder mais tempo, vamos aos erros do texto (os que ainda não foram corrigidos).

1. "A trajetória vencedora agiu como uma cortina escondendo os problemas que perseguiram o jogador até pouco: o alcoolismo". Os problemas, plural, eram (ou era?) um só: o alcoolismo (singular).

2. "Eu me deixei levar pela fama, o sucesso. Deixei o dinheiro subir para minha cabeça e me achava capaz de tudo". A forma como ele acrescenta "o sucesso" dá a pista: o repórter provavelmente escreveu muitas coisas literalmente do jeito que o Cicinho falou. Esqueceu-se que a linguagem falada é diferente da escrita. Além disso... o dinheiro subiu "à" cabeça, e não para cabeça (sic).

3. "No clube mineiro, também teve problemas com o então técnico Levir Culpi. Depois de uma passagem apagada pelo Botafogo, voltou ao Galo e reencontrou o bom futebol". Sem muito aviso por parte do repórter, o Cicinho vai do Atlético (onde tinha problemas) para o Botafogo (onde teve uma passagem apagada) e voltou ao Galo. E o leitor que se vire pra acompanhar.

4. "O tricolor foi uma ponte para a Seleção, onde foi campeão da Copa das Confederações em 2005. E e no ano seguinte fez parte do grupo que disputou o Mundial da Alemanha". Ontem faltava a palavra "ano". Corrigiram este erro e criaram um novo: agora repete-se o "e".

5. "Se eu tivesse sido profissional, estaria brigando para ir à Seleção, mas não quis brigar por isso e entreguei de mãos beijadas a vaga". Primeira vez que eu vejo a expressão "de mão beijada" no plural. Vai ver ele entregou a vaga com as duas mãos.

6. "Quando o avião subiu para Madri, minha cabeça foi junto, o sucesso subiu igual a um foguete". Menos mal que a cabeça do Cicinho não ficou para trás quando ele subiu no avião (imagine a cena). Para a confusão ficar completa, foi acrescentado o foguete... que vai muito mais longe que o avião. Vamos ver se terminamos de entender: a cabeça subiu no avião, mas o sucesso subiu como um foguete? A cabeça não deu conta de acompanhar o sucesso? Ainda assim (lá vou eu fazer pior que o repórter), ele estava nas nuvens...

7. "Por exemplo, eu chegava numa choperia e mandava o cara abrir para mim dizendo que eu ía beber tudo lá". Estou até agora tentando entender isso sem pensar besteira.

8. "Após voltar da cirurgia, Cicinho acabou perdendo espaço no Real e foi vendido ao Roma da Itália, onde passou a receber um salário maior do que tinha no clube merengue". Voltar da cirurgia? O repórter certamente quis referir-se ao tempo de recuperação até poder jogar novamente. Mas, do jeito que ele escreveu, "voltar da cirurgia" também pode ser o retorno para casa após receber alta.

9. "Esteve em campo em 72 partidas, marcando três gols, mas voltou a viver um novo drama na carreira, ao ter que operar o joelho direito pela segunda vez em menos de dois anos". Cicinho no fundo do poço... e o repórter também. "Voltou a viver um novo drama". Se o drama era novo, como é que ele "voltou a viver"?

10. "Já cheguei ao ponto de, no melhor hotel da minha cidade, enquanto o cara fazia o meu check-in, às três da manhã, eu fazia xixi no saguão do hotel - se recordou, com um sorriso amarelo no rosto". Aqui é só pra destacar um erro recorrente no texto: o cara usa somente a próclise.

11. "O mesmo roteiro do Real Madrid se repetiu no Roma". No texto, Roma tornou-se masculino. E está errado. Como saber qual é o certo? Simples: pelo nome completo. O clube italiano chama-se Associazione Sportiva Roma. Associazione (Associação) é feminino. Esta é a mesma diferença que faz com que "Inter" seja feminino quando se refere à Inter de Limeira (Associação Atlética Internacional) e masculino quando se refere ao Inter de Porto Alegre (Sport Club Internacional).

12. "Cumpriu o contrato de empréstimo e voltou para o Roma, onde perdeu espaço e acabou novamente emprestado ao Villareal da Espanha". Como novamente? Alguma vez ele já havia sido emprestado ao Villarreal? Não.

13. "Evangélico, foi para um congresso em Manaus, quando ouviu de um pastor uma vontade, que mais tarde se transformaria numa 'profecia'". Dizer que ele ouviu uma vontade já me causou estranhamento quando li pela primeira vez. Mas o pior é dizer que isso se transformou numa profecia. Nada "se transforma" numa profecia. Ou é, ou não é. Uma profecia que se cumpre já era profecia muito antes do seu cumprimento. Se não se cumpre, não era profecia. Nunca foi. Outra coisa: profecia não é simplesmente uma previsão. Se fosse assim, teríamos vários profetas e profetisas nos telejornais dizendo como será o tempo no dia seguinte (embora algumas destas profecias não se cumpram hehehehehe).

14. "Os tempos de Roma não foram de todo ruim para Cicinho". Misturar plural (os tempos) e singular (ruim) é erro primário.

15. "A amizade permaneceu, e, depois de resistir bastante, Marri cedeu aos flertes de Cicinho. O namoro começou, e a desconfiança veio a reboque". Aqui é só pra exemplificar como o repórter distribuiu as vírgulas (as sublinhadas estão sobrando). Não posso citar exemplos do texto todo porque ficaria muito longo (digamos que com 15 tópicos já está longo) e o leitor ficaria de saco cheio entediado com a leitura.

16. "O amor que ela sente por mim, que eu sinto por ela, fez com que eu retomasse o amor que eu sinto pela minha vida". Aqui chamo a atenção para a repetição de palavras. O repórter deve ter copiado literalmente o que ouviu.

17. "E assim eu percebi que não posso desperdiçar o que Deus me deu, o don de jogar futebol". O repórter parece não ter o "don" de escrever bem...

18. "O Cicinho representa o amor para mim, e o amor é a base, a função de tudo. Ele pode contar copmigo pro que der vier". Esqueça o copmigo, que é erro de digitação. Aqui o repórter confirma que escreveu tudo do jeito que ouviu (tá bom, se ele tivesse estilo isso seria "recurso de oralidade"). Ou melhor, quase. Porque a menina não deve ter dito "der vier".

A tranqueira matéria original (já com algumas correções, mas não todas) pode ser lida AQUI. Mas não faça isso, a menos que sua intenção seja a de aprender como não se deve fazer. Até agora não acredito que o Globo Esporte deixou que fosse publicado um texto com tantos erros.