quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Duas da Agência Brasil

Comento duas matérias publicadas na Agência Brasil que são dignas de nota. A primeira tem esta manchete: "Reunião da Anatel é suspensa por falha em transmissão pela internet". Isso só pode ser piada pronta. Será que agora eles mesmos se dão conta do trabalho de merda fezes que fazem?

A outra é esta: "Para fugir da crise, empresários brasileiros fazem feira no Rio com oferta de imóveis em Portugal". Não vou falar sobre a extensão da manchete, que é um absurdo. Tem coisa mais divertida que isso. A pérola é esta:

“Nós não temos saída. Acabou o mercado interno. Isso não quer dizer que não possa voltar, mas não vai ser aquela euforia de compras que foi no passado”, disse Arnaldo Grossaman, um dos empresários responsáveis pelo evento e erradicado há mais de 20 anos em Portugal.

Prestou atenção na cagada bobagem? O empresário é ERRADICADO em Portugal? Ele foi extirpado? Foi arrancado pela raiz? O indivíduo em questão é radicado, não erradicado.

Como a Agência Brasil é bem transparente, publicou o nome do repórter que escreveu esse negócio (Gilberto Costa) e da revisora que não corrigiu (Lilian Beraldo). E sabe qual é o pior de tudo? Quem paga por isso é você. Sou eu. É o contribuinte.

Interior tamanho família

- Manoel, você está sabendo que o hotel é bem simples, né?

A Jane, que estava fazendo minha reserva, queria ter certeza da minha escolha: um duas estrelas no qual estariam hospedados mais dois colegas de trabalho. Olhei outros hotéis, também baratos; mas neste eu teria a companhia de dois colegas no café da manhã. Além disso, homem dorme em qualquer tranqueira. Uma vez dormi num hotel de R$ 25 ao lado da rodoviária de Santana do Livramento. Então, não havia problema algum. Além do mais, eu estaria trabalhando quase o tempo todo e o hotel tinha internet.

O voo de Brasília a Confins durou quase uma hora. Mas havia uma segunda viagem pela frente, porque o busão do aeroporto para Belo Horizonte levava um pouco mais do que isso no trajeto. Quem vai de avião a BH faz obrigatoriamente duas viagens. A primeira placa que lembro de ter visto dizia: Belo Horizonte 36 km.

Deixamos algumas coisas (e pessoas) no local do evento em que trabalharíamos e fui com os outros dois para o hotel. Ficava na mesma rua, uns 700 metros mais pra baixo. Claro, fomos caminhando, arrastando as malas, derretendo sob o sol belorizontino.

Depois de preencher todos os papéis na recepção, entramos no elevador. Fernando, Antonio, eu... e um funcionário do hotel. Ele puxou com a mão uma grade para fechar a porta do elevador, acionou uma alavanca para fazê-lo subir, parou-o no primeiro andar (com um pequeno degrau), puxou a grade para abrir a porta - tudo isso enquanto nós observávamos, com alguma surpresa, o funcionamento da velharia.

O rapaz indicou os quartos a cada um. Embora a Jane tivesse pedido quartos com ar condicionado, os nossos tinham apenas um ventilador de teto. "Pelo menos fica em cima da cama", pensei enquanto via meu quarto. O Fernando não teve a mesma alegria: ficou com medo de que a luminária, acoplada ao ventilador, caísse em cima dele, de tanto que balançava.

Fomos ao trabalho. Voltamos todos cansados, querendo dormir. Pelo menos o lanche do hotel estava gostoso. Fiquei escrevendo matéria no quarto - mas não pude subi-la no mesmo dia porque não consegui acessar a internet do hotel. Perto da 1 da madrugada, deitei-me. Só que fazia muito calor, a única janela não servia pra nada e o ventilador também não ajudava. Devo ter passado mais de uma hora rolando na cama antes de pegar no sono. O Fernando contou que acordou de madrugada e que viu pela janela que o lugar era barra pesada (digo o endereço para que os belorizontinos possam rir de mim: rua Espírito Santo, perto do número 200).

Quinta-feira. O café da manhã era servido no segundo andar, ao qual só era possível chegar de escada. Isso mesmo: para o primeiro andar a subida era de elevador; para o segundo, de escada. Se aquele prédio pega fogo, todo mundo vira churrasco. E, já que falei de comida, o desjejum era servido no espaço correspondente ao hall do primeiro andar, com quartos do lado e tudo mais. Comi bem e fui trabalhar.

Alguém deve ter comentado com a Jane sobre a noite mal dormida, porque ainda pela manhã ela telefonou para o hotel e conseguiu um quarto triplo com ar condicionado. Então, no intervalo do almoço, fui com o Antonio para ver como era isso. Entramos, olhamos, realmente tinha ar condicionado, três camas de solteiro, uma mesa com cadeira (achei que seria ótima para trabalhar de madrugada), aprovamos a mudança de quarto, carregamos as bagagens, condenamos o colega ausente a ficar com a cama do meio e voltamos ao evento.

- Fernando, fomos lá, vimos o quarto, aprovamos e transportamos as bagagens.
- Vocês olharam se o banheiro tinha porta?

Não, não havíamos prestado atenção a este detalhe. Efetivamente, nos quartos da primeira noite, nenhum de nós tinha tido um banheiro com porta. Mas, pelo menos no meu quarto, ele ficava no fundo, guardando alguma privacidade. Quando voltei, no início da noite, doido de vontade de tomar uma ducha, vimos que o banheiro não apenas não tinha porta, como ficava totalmente virado para... a porta do quarto. Isso mesmo: se alguém abrisse a porta do quarto, de lá de fora daria pra ver o banheiro todo.

Queria dar uma saída à noite, comer uma pizza, fazer qualquer coisa. Não conhecia a cidade, por isso cheguei a perguntar a um taxista alguma sugestão de lugar bom pra sair. "Ah, não tem. Os lugares bons que tinha foram fechando todos". Será uma versão mineira do Seu Lunga? Em 2014 tem Copa do Mundo, é este o tratamento que os turistas vão receber?

Eram 9 da noite quando chamei um táxi. "Olha, eu não conheço a cidade, por favor me leve para algum lugar legal de ver à noite". O cara me levou até a lagoa da Pampulha. Bela escolha, realmente gostei e pedi pra descer ao lado de um parque de diversões onde havia uma roda gigante digna deste nome. Com 36 metros de altura (sem contar a altura natural do parque), proporcionava uma bela vista da lagoa; do outro lado estava o Mineirão; lamentei estar sem uma câmera, mas por uma questão de princípios eu não levaria a que uso a trabalho.

Depois de sair do parque, caminhei um pouco ao lado da lagoa, passei em frente à famosa igrejinha (o que tinha de casalzinho se agarrando ao lado dela não era uma coisa muito santa), pensei em vários postais que tenho deste lugar e, após cerca de meia hora, entrei em outro táxi. "Olha, conversei com um taxista e ele me recomendou uma pizzaria chamada Guarani, é boa mesmo?", perguntei. Diante da resposta afirmativa, pedi que ele me levasse para lá.

"Onde é que eu fui parar", pensei enquanto entrava naquele lugar com jeito de boteco. Pedi minha pizza e, enquanto esperava, observei o entra e sai de pessoas - algumas, inclusive, com roupa social. Isso mostrou que, apesar da aparência ruim, o lugar era mesmo apreciado. E com motivos, porque a pizza estava gostosa. Não era nota 10, mas tinha um sabor diferente e único.

De volta ao hotel, tinha que trabalhar. Coloquei o computador na mesa, peguei o modem do Fernando e fui escrever matéria. A cadeira era tremendamente desconfortável e, depois de suportá-la por um tempo, optei por escrever na cama. Uma hora depois o sono era tanto que simplesmente coloquei o computador no chão e adormeci.

Sexta-feira. O horário não era tão apertado como o do dia anterior, por isso pudemos acordar um pouco mais tarde. Enquanto os colegas de quarto foram para o café, eu falei que iria mais tarde, para publicar a matéria que estava terminando de escrever. Em menos de 10 minutos os dois estavam de volta.

- Comeram rápido, hein!
- Você não está entendendo. O café da manhã está acabando.

Pensei que fosse bobagem, mas quando cheguei ao segundo piso, todas as mesas tinham pratos sujos, o suco de laranja estava acabando e até mesmo o queijo havia acabado. Céus, como é que o queijo pode acabar em qualquer lugar de Minas Gerais??? É o fim do mundo, uai! Comi... um pão com manteiga, e fui trabalhar.

No fim do dia, após terminar o evento e fazer o que deveria ser feito, fui a um shopping comprar algum presentinho para a Beta. É diferente entrar num shopping em que as lojas não são as mesmas de todos os outros shoppings que conheço. Comprei um livro com imagens de Minas, aproveitei para lanchar rapidamente e fui ao hotel buscar minhas tralhas para ir até o ponto em que se pega o busão para viajar até o aeroporto de Confins.

(Eu já havia comprado um presente para mim mesmo: uma quantidade caprichada de postais de Minas Gerais. O pacote tinha uns 200 e o Sérgio Ricardo, da Postais de Minas, gentilmente foi encontrar-me no hotel pra levar a encomenda e ainda fez um preço excelente)

É claro que havia muito mais coisas pra conhecer e o tempo numa viagem de trabalho é escasso. Mas é evidente também que esta cidade tem muitos desafios para enfrentar, especialmente pensando num evento como a Copa do Mundo de 2014. O que posso dizer é que Belo Horizonte é interior. Mas é um interior tamanho família. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Mais uma pérola do ENEM

Em outro tempo, quando mandávamos pérolas do ENEM por e-mail, fazíamos referência àquelas atribuídas aos alunos menos brilhantes. Mas a que vai abaixo é terrível, porque não veio de aluno nenhum.

A prova de redação teve como tema "O movimento imigratório para o Brasil no Século XXI". Entre os movimentos apresentados nos textos motivadores está o dos haitianos. Vai de Porto Príncipe ao Panamá, de lá para Quito, depois para Lima, entra no Brasil por Brasileia (AC), vai a Porto Velho e, de lá, para outros estados, conforme este mapa:


Viram o tamanho da cagada bobagem? 

Escrevo uma coluna num site uruguaio e costumo finalizá-la com erros da imprensa: os "vrutos" da semana (o certo é brutos, mas escrevo assim para brutalizar a palavra). Este do ENEM seria um "vruto" campeão do mundo...

Não é uma pérola dos alunos. São os próprios examinadores do grande exame nacional de conhecimentos do nivel médio que colocam Quito na Colômbia!!! Será que não tinha um miserável revisor pra impedir esse mico de nível nacional? Ou será uma versão geográfica do "nós pega os peixe"? A questão ainda dizia: "Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista". Que nota será que tiraria um aluno que defendesse, de forma estruturada e coerente, o seu (e do mundo todo) ponto de vista dizendo que Quito fica no Equador?

No geral, a educação brasileira está em petição de miséria. Antigamente esperava-se que professores (e examinadores) soubessem mais que os alunos. Agora, nem isso é garantido - não é preciso ensinar, qualquer coisa está valendo (e ensinar dá trabalho). É a pedagogia do "tudo pode". Ainda se fosse um professor elaborando sozinho uma prova para aplicar à sua classe no dia seguinte, vá lá, seria uma explicação (embora não uma justificativa); mas fazer nas coxas um exame para o país inteiro, com a antecedência e cuidado que o trabalho requer e o catatau de gente que trabalha nisso? Tenha dó...

Por último, pra não perder a piada: já pensaram se alguém diz ao camarada Rafael Correa que a Colômbia continua violando a soberania do território equatoriano?

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Segredos que todo mundo sabe

Chamadinha de capa no portal Terra: "Veja os cinco segredos de Tite para conquistar o Mundial". É claro que NÃO cliquei na chamada. E nem precisava.

Tite conquistou o Mundial? Não. Então a eficácia dos cinco segredos não está garantida, certo?

Aliás, se segredos fossem, não estariam sendo contados pela imprensa para toda a torcida do Corinthians... e para não-corinthianos também.

Nelson Rodrigues dizia que o carioca é a única pessoa capaz de gritar um segredo para alguém que está do outro lado da rua. Se for como a manchete diz, Tite seria carioquíssimo...