quinta-feira, 18 de julho de 2013

Encontro com um amor passado

Esta noite encontrei um amor antigo. Durante um intervalo, pude trocar algumas palavras, mas não falei nada daquilo que gostaria. Ela estava trabalhando num lugar meio estranho, como uma repartição pública, cheia de guichês de atendimento ao público e uma fila dos infernos. Por último passei pelos guichês, um a um, procurando por ela pra dizer algo como "olha, sei que você está ocupada agora, quero conversar contigo mais tarde, eu te espero", mas não a encontrei mais.

É como na vida. Porque este não foi um encontro como os outros. Foi apenas um sonho. Que não abala minhas estruturas, mas desperta corrige isso, idiota, então um sonho desperta, é? acende a curiosidade de saber como ela está, de contar como estive, de colocar minha amizade à disposição. Dizer que valorizo o caminho percorrido para tornar-me o que sou hoje e agradecer o que ela somou a este caminho.

Escrevi uma carta para Ludimila aos 16 anos. Recebi resposta um ano depois, mas foi num momento muito marcante. Outro ano se passou, nos encontramos na internet, começamos a conversar todos os dias. Em menos de uma semana ela ficou muito apaixonada - e eu muito receoso. Acabei jogando um balde de água fria nela, temendo que esta situação aumentasse sem controle e ao mesmo tempo procurando respeitar os sentimentos dela.

19 de março de 2000. No Paraná havia uma menina chorando por mim - e isso era novidade para quem estava acostumado a ser um saco de pancadas. Foi terrível, isso era responsabilidade minha. Preferia mil vezes estar na situação inversa, porque sabia que eu poderia cuidar muito bem de mim mesmo.

Os meses se passaram, a situação se inverteu. Apaixonei-me por ela, sofria pensando na melhor forma de dizê-lo. O sentimento amadureceu. E escolhi um dia. "Será hoje". E justo naquele dia, antes que eu o dissesse, ela me falou que estava interessada em outro rapaz. Quem manda dizer que preferia mil vezes estar na situação inversa? Qualquer coisa que eu dissesse em seguida pareceria uma medida desesperada. Mesmo assim, falei.

Outros meses se passaram. Te amo pra cá, te amo pra lá, Maninho, Maninha, nada que desse namoro.

"Venha passar uns dias aqui em Foz", convidou uma amiga de lá. Prontamente aceitei. Mas eu dependia dos meus pais, minha mãe não gostava da ideia, escolheu as passagens e me permitiu ficar lá... dois dias. E a Ludimila não estaria.

Ainda assim, houve encontro. No aeroporto, em São Paulo, fazendo conexão. Conversamos gostosamente, tiramos um par de fotos juntos, eu não tive a percepção de que aquele era o momento. Agi como um grande amigo. Ao despedir-me, fiquei com a língua coçando para dizer que a amava muito... e não disse.

Fui a Foz, fiquei encantado com a beleza das Cataratas, mas ficou uma pendência: o passeio de barco. Ao ir embora, interpretei errado uma informação sobre a Ludimila. E entrei em desespero, porque passaria vários dias longe de tudo e sem poder falar com ela. Até quis me matar. (Não faltará um idiota que perguntará se eu me matei.)

Atormentado pela possibilidade de perdê-la, entrei em depressão. Mas foi numa noite, no estádio, enquanto espairecia assistindo a um jogo do Gama, que comecei a ter as melhores ideias. Mandaria uma carta todos os dias até completar 25 cartas no dia 25 de fevereiro - a última delas conteria um cartão que havia comprado. Comecei o plano, mas não cheguei ao fim. E o cartão acabou sendo dado a outra pessoa, pouco menos de três anos depois.

Foi no final de 2001 que recebi pela última vez um e-mail dela. Eu havia escrito uma mensagem na qual dizia, entre outras coisas, que ela era inesquecível. Recebi em resposta uma mensagem dizendo que me considerava especial e que esta opinião não iria mudar. Quase nada eu soube dela depois.

Agosto de 2008. Uma viagem de trabalho me levou a Foz do Iguaçu. Fiquei emotivo durante o voo, quase chorei durante o pouso (e não foi pelo fato de as luzes de emergência do avião estarem acesas). Estava cobrindo um evento e vendo muita gente a quem só conhecia por fotos e conversando com um deles, Sidney Pascoutto, falei sobre a situação. "É uma história legal, você devia procurá-la", ele me disse. 

Na tarde seguinte, um sábado, eu estava no hotel e peguei a lista telefônica. Achei o número, liguei algumas vezes, não atendeu. "Pelo menos eu tentei". E no dia seguinte, tratei de resolver a outra pendência: fiz o passeio de barco nas cataratas. Minha alegria era tão grande que não foi reduzida nem pelo atraso que quase me fez perder o voo de volta.

Voltei para casa em estado de graça. Era como se eu pudesse pegar aquela história de 2001, quando fui embora sem fazer o passeio e já entrando em depressão, e escrever um novo final, realizando um sonho e voltando feliz.

Mas Mano - alguém poderia perguntar - o que tanto você queria conversar com a Ludimila?

Mais ou menos a mesma coisa do sonho desta noite. Contar como vai a vida, como Deus tem me tratado bem, o que fiz depois que perdemos contato, falar das alegrias (que são muitas), do meu casamento, do meu bebê, agradecer pela importância que ela teve no meu amadurecimento e colocar minha amizade à disposição. Meu amor de homem só pode ser dado a uma pessoa (e não é ela), mas o carinho do amigo permanece intacto.

Duvido que ela vá ler este texto. Mas se isso acontecer, esta é a mensagem que eu gostaria de transmitir. Os erros e acertos de um jovem maduro porém inexperiente são parte da minha história, valorizo isso, I did it my way. Será um grande presente poder chamá-la de amiga. Exatamente o mesmo que eu quis durante o encontro onírico. (Que legal, sempre sonhei escrever um texto com a palavra onírico!)