terça-feira, 15 de outubro de 2013

Você valoriza o professor?

"Brasil, vamo' acordar, o professor vale mais que o Neymar". Quem não se lembra deste grito bastante repetido durante os protestos ocorridos em junho deste ano? Todos pensam que o Brasil deve valorizar mais os professores para que, desta maneira, a educação tenha mais qualidade e o país tenha um melhor futuro. Mas... quem é o Brasil?

Impressionante a capacidade que o brasileiro tem de resolver os problemas encontrando soluções para que os outros trabalhem. Valorizar o professor é uma delas. Todos devem valorizar os professores. É consenso. Então, cabe a pergunta: todos quem? Por exemplo, você. Isso mesmo, não adianta olhar para o lado. Você valoriza o professor?

Você, pai! Você valoriza o professor do seu filho? Você o trata como um mestre que tem um papel importante na formação escolar do seu garoto ou como um pobre coitado que não conseguiu uma profissão melhor? Você o trata como uma autoridade na escola ou como um imbecil que vive tolhendo a genialidade inata do seu filho? Quando seu filho tira uma nota baixa, você dá uma dura nele ou no professor?

Você, aluno universitário! Quem é o professor pra você? É um mero picareta que fica tagarelando na aula por não ter nada melhor pra ensinar? É um cara chato que dá uma aula maçante sobre um tema que você não está interessado e que nem imagina por que faz parte do currículo (como "Leitura e Produção de Textos") e que você assiste apenas metade da aula para, na outra metade, sair para jogar truco com os colegas? Ou é alguém que tem algo a ensinar se você tão somente tiver a disposição para aprender?

Você, aluno de segundo grau! Você valoriza seu professor? Ou não perde a chance de zoar com a cara dele, colocar um rabo de papel no jaleco, ficar apontando lanternas de laser para o quadro, enrolar o cara fingindo que presta atenção na aula pra depois chegar na prova e ficar contente porque tirou 6,5? Seu professor vale mais do que o Neymar? Você o respeita como autoridade na sala de aula ou deleita-se em desafiá-lo, mostrar que é mais esperto do que o trouxa e que não vai se submeter à ordem dele?

E você, aluno de primeiro grau! Valoriza o seu professor? Ou quer passar a aula toda desenhando, trocando figurinhas, falando besteira com o colega do lado e fingindo que está aprendendo? Suas notas são responsabilidade sua ou foi ele que te ferrou? Você o pinta como um diabo quando fala dele para os pais? Você está na escola para aprender com ele ou para impor os seus saberes?

Com tudo isso, existem bons e maus professores, existem os caras que acertam e os que erram (e eu poderia apresentar uma coleção de pérolas de sala de aula). Mesmo assim, você pode valorizar os professores graças à qualidade deles ou também pode valorizá-los apesar da qualidade. Seja você a mudança que quer ver no seu país.

Feliz Dia do Professor!

P.S.: Aqui está a professora que me alfabetizou. Tinha apenas 17 anos e minha turma foi a primeira da sua carreira, mas ela fez um belo trabalho. Dezoito anos depois voltei à cidade de Araguari para encontrá-la e agradecer.

domingo, 6 de outubro de 2013

Inflação do chocolate

Outro dia estava no mercado olhando a prateleira dos chocolates e lembrei de um assunto que, há muito tempo, gostaria de abordar: a inflação do chocolate. Para isso, vamos levar em conta três momentos.

O primeiro deles é abril de 2000. Procurei bastante por um ovo de páscoa Laka - que, na época, era meu chocolate preferido. Num mercado de uma grande rede comprei um ovo de páscoa tamanho 15 por R$ 7,99 e mais uma barra de Laka por R$ 1,99. 

O segundo momento é fevereiro de 2006. Foi nesta ocasião que conheci a Cacau Show e o chocolate ao leite deles, na época chamado Suíço, passou a ser meu preferido (excluindo, obviamente, os chocolates premium). A barrinha dele custava R$ 0,60, mas havia uma promoção que me permitia comprar dois por R$ 1,00 (ou, como eu fiz várias vezes, dez por R$ 5,00).

O terceiro momento é quinta-feira, quando parei em frente à prateleira de chocolates no mercado. A barra de Laka custa R$ 4,69. Já o ovo de páscoa tamanho 15 custou R$ 19,99 em abril. E a barrinha de chocolate ao leite da Cacau Show custa R$ 1,25, mas há uma promoção que te permite comprar cinco por R$ 5,00.

A pergunta é: o preço dos chocolates acompanhou os índices de inflação? Vamos verificar isso com a calculadora do UOL, usando como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

No caso da barra de Laka que custava R$ 1,99, a inflação até agosto de 2013 foi de 139,77% e o preço corrigido seria de R$ 4,77. Logo, o preço do Laka subiu mas ficou abaixo da inflação do período, certo? ERRADO! Porque a barra que tantas vezes fez minha felicidade pesava 200 gramas, mas hoje ela pesa apenas 170 gramas. Roubaram 15% da minha alegria. Usando um termo bíblico: filho da mulher perversa e rebelde! Fazendo uma regra de três com o peso, o preço da barra de 200 gramas seria de R$ 5,51. O Laka subiu 37% acima da inflação (176,88% contra 139,77%).

O ovo de páscoa tamanho 15 custava R$ 7,99. Aplicando a inflação até abril de 2013 (138,19% - não me culpem, é que não se vendem ovos de páscoa fora da época), o ovo custaria R$ 19,03. Logo, o aumento foi acima da inflação. O leitor pode ponderar que pelo menos o ovo de páscoa tamanho 15 continua sendo o mesmo produto, certo? ERRADO! Ele encolheu ainda mais do que a barra! Um ovo que pesava 240 gramas em 2000 hoje pesa 196 gramas. Redução de 20% no tamanho! Filho da mulher mais perversa e rebelde ainda!!! Fazendo a regra de três novamente, o preço do ovo de 240 gramas seria de R$ 24,99. O ovo de páscoa tamanho 15 teve uma alta de 74% acima da inflação (212,76% contra 138,19%).

Pelo menos no caso da Cacau Show o produto não mudou de tamanho: a barrinha continua pesando 20 gramas. Dei uma colher de chá para a inflação e calculei o período de dezembro de 2005 até agosto último. Ainda assim, a inflação foi muito inferior à alta do chocolate: 49,14%. Já o preço do chocolate cresceu 108,33% no mesmo período. Se eu der mais uma colher de chá e escolher o preço com promoção, a alta seria de 100%. Só que mesmo a promoção não vale mais pra quem quer comprar apenas duas barrinhas. Agora tem que comprar cinco. Então, se eu fosse cretino e calculasse o preço baseado nisso, seria uma alta de 150% contra uma inflação de R$ 49,14% - ou seja, 100,86% acima da inflação! Mas eu estou muito bonzinho e vou considerar a alta de 100% - ainda assim, 50,86% acima da inflação. A barrinha, partindo do preço de R$ 0,60, estaria custando R$ 0,89 se apenas tivesse acompanhado a inflação do período.

Conclusão: o índice de inflação do chocolate não é científico. Além disso, é natural que alguns produtos subam acima da inflação e outros abaixo. Mas não seria nenhum exagero desconfiar dos índices oficiais. Se eles são maquiados eu não sei. Mas barra de Laka e o ovo de páscoa são (nota: a barra de chocolate Garoto, que um dia já pesou 200 gramas, acaba de ser encolhida de 180 para 150 gramas).

E no mercado... bom, comprei uma barra importada de chocolate belga. Além de saborosa, ela pesa 200 gramas.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pizzaria Suprema

AVISO LEGAL BACANA: ESTE É UM TEXTO DE HUMOR. EMBORA TENHA INSPIRAÇÃO NA REALIDADE, TRATA-SE DE UMA CENA FICTÍCIA, QUE NÃO TEM A OBRIGAÇÃO DE SER FIEL AOS FATOS (MESMO PORQUE JÁ EXISTEM PESSOAS SUFICIENTES CUIDANDO DOS FATOS). SE VOCÊ É ZANGADO, MAL HUMORADO, POLITICAMENTE INCORRETO, SE ESTE MATERIAL OFENDE VOCÊ OU SE VOCÊ FAZ PARTE DO SINDICATO DOS PIZZAIOLOS, NÃO LEIA. RIDENDO CASTIGAT MORES. FAÇA HUMOR, NÃO FAÇA A GUERRA. E SE GOSTAR DE PIZZA, COMA UMA DE AZEITONAS EM MINHA HOMENAGEM.

*       *       *

Garçom: Bem vindo à Pizzaria Suprema. Aqui está o cardápio.

Cliente 1: Vamos ver... que pizza você me recomenda?

Garçom: Há pizzas para todos os gostos, com sabores variados, com poucos ou com muitos ingredientes.

Cliente 1: Qual é a pizza mais caprichada que vocês têm?

Garçom: Marcos Valério. Tem tudo quanto é ingrediente que você imaginar: tomate, bacon, palmito, alcaparras, lingüiça mineira, corrupção ativa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, peculato, azeitonas, queijo Minas, tem de tudo. Mas, por algum motivo, parece que ninguém gosta muito dela.

Cliente 1: Não, essa pizza é forte demas. Não tem alguma mais leve?

Garçom: Aí no alto do cardápio tem a Geiza Dias. Só muçarela, não tem nem molho de tomate. Mas, pra ser sincero, até os que gostam dela dizem que é uma pizza mequetrefe.

Cliente 1: Bom, vou dar uma olhada e logo escolho uma.

Cliente 2: Garçom!!! Que droga de pizza é essa que vocês me serviram? Ela não tem nada, só a massa!

Garçom: Qual foi o seu pedido?

Cliente 2: Duda Mendonça. O cardápio diz que ela tem muçarela de búfala, pomodori pelati, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e vem acompanhada de um vinho Romanée Conti!

Garçom: Lá na cozinha os juízes, digo, os pizzaiolos não viram indícios de nada disso.

Cliente 2: Mas a própria pizza confessa que recebeu dinheiro no exterior!

Garçom: Sinto muito, senhor, não podemos fazer nada.

Cliente 1: Garçom! Eu ainda estou escolhendo, mas aqui na pizza Lewandowski o cardápio não diz quais são os ingredientes.

Garçom: Está vendo a pizza Barbosa, logo acima? A pizza Lewandowski é exatamente ao contrário. Tudo o que tem na pizza Barbosa não tem na Lewandowski e tudo o que não tem na Barbosa tem na Lewandowski.

Cliente 1: E essa Toffoli, logo abaixo?

Garçom: É idêntica à Lewandowski, mas com uma diferença básica: não demora. Mas a qualidade também não é a mesma.

Cliente 1: Ok, então prepare pra mim uma Lewandowski.

Cliente 3: Garçom, já fiz minha escolha. Traga por favor uma pizza José Janene...

Garçom: Sinto muito, mas ela não faz mais parte do cardápio.

Cliente 3: Mas ela está aqui na lista, é uma pizza de coração.

Garçom: Sim, era uma pizza muito pedida, com sabor de valerioduto e dinheiro lavado. Mas nós paramos de trabalhar com alguns ingredientes e a pizza José Janene não faz mais parte do cardápio. 

Cliente 3: Tem alguma outra cujo sabor seja regado a lavagem de dinheiro?

Garçom: Sim, tem a Professor Luizinho.

Cliente 3: Ok, traga-me esta.

Cliente 4: Garçom, eu estava olhando o cardápio... as pizzas Marcos Valério e Ramon Hollerbach têm os mesmos ingredientes. Qual é a diferença entre as duas?

Garçom: Basicamente a quantidade. A Valério é mais forte, a Hollerbach é um pouco mais suave. Se você preferir tem também a Cristiano Paz, que é parecida, só que sem a evasão de divisas.

Cliente 4: Ok, acho que vou me sentir menos culpado pedindo uma pizza Cristiano Paz. Traga esta, por favor.

Cliente 5: Garçom, faiz favor... tava sentindo um cherim bão dimais da conta. Tem alguma pizza com sabor da roça pro mineirim aqui?

Cliente 5: Olha lá embaixo, à direita, antes das pizzas doces... tem várias pizzas com tempero de Banco Rural. É um tempero legal... digo, ilegal, que realça o sabor de outros ingredientes como corrupção ativa, gestão fraudulenta, evasão de divisas e até formação de quadrilha. Escolha a que mais gostar e me chame.

Cliente 6: Garçom, eu quero uma pizza Roberto Jefferson pra viagem.

Garçom: Não fazemos.

Cliente 6: Como é que é?

Garçom: Não fazemos. Roberto Jefferson é só pra pra comer aqui no restaurante.

Cliente 6: E eu não posso fazer o pedido, pagar à parte a embalagem pra viagem, colocar a pizza dentro da caixa e levá-la pra comer em casa?

Garçom: Não.

Cliente 6: Isso é um absurdo! Qual é a explicação que você me dá pra isso?

Garçom: A pizza Roberto Jefferson não deve ser consumida em regime fechado. No máximo, semiaberto... foi o pessoal da cozinha que decidiu isso.

Cliente 6: Então me traga uma Valdemar Costa Neto.

Garçom: O caso dela é o mesmo. E com uma diferença: quase ninguém gosta da pizza Valdemar Costa Neto.

Cliente 4: Garçom... me diga uma coisa discretamente: eu acabei de ver sair uma pizza com uma montanha de ingredientes. Que pizza é aquela?

Garçom: Delúbio Soares.

Cliente 4: Sério? Que estranho, no cardápio os ingredientes dela eram basicamente os mesmos das pizzas João Paulo Cunha, José Dirceu e José Genoíno...

Garçom: Sim, é verdade. Mas os grandes apreciadores defendem que todas estas pizzas sejam preparadas juntas e, no final, os ingredientes todos sejam colocados na pizza Delúbio Soares.

Cliente 4: Que diferente... e o pessoal da cozinha concorda com isso?

Garçom: Há muitas divergências a respeito...

Cliente 4: Vocês são muito esquisitos...

Garçom: Cliente 1, aqui está a sua pizza Lewandowski.

Cliente 1: Obrigado... mas... o que é isso? Não tem nada em cima da massa?

Garçom: Como eu falei para o senhor, a pizza Lewandowski era exatamente o contrário da Barbosa. Na Barbosa os ingredientes vão em cima da massa. Na Lewandowski a massa é que vai por cima dos ingredientes.

Cliente 1: Mas isso é um absurdo!

Garçom: Eu também acho. Mas precisávamos ser fiéis à receita original...

Cliente 3: Garçom! Esta pizza Professor Luizinho é intragável.

Garçom: Sim, nós sabemos disso... tudo que não presta tem nesta pizza.

Cliente 3: E por que não me avisou disso antes?

Garçom: Você queria uma que tivesse sabor de lavagem de dinheiro. Eu apenas indiquei uma...

Cliente 3: Mas nem mesmo este sabor eu senti na pizza.

Garçom: É porque lá na cozinha os pizzaiolos acham que ela não tem nada disso...

Cliente 3: Mas esta pizza é um nojo! Será que não existe ninguém pra impedir vocês de servirem essas pizzas? A vigilância sanitária tem que fazer alguma coisa!

Garçom: A vigilância sanitária eu não sei, mas o Roberto Gurgel quis impedir a gente de servir quase todas as nossas pizzas no ano passado. Pra ele, só podia servir a Antonio Lamas e a Gushiken - e essa última, infelizmente, saiu do cardápio também...

Cliente 7: Garçom! Eu não suporto mais esperar! Já faz mais de duas horas que pedi uma pizza José Dirceu  e vocês até agora não trouxeram!

Garçom: Calma, amigo! Você precisa entender que ela é feita com ingredientes selecionados e o processo demora mesmo! Até a Procuradoria realizar a Denúncia, a nossa cozinha aceitar, os pizzaiolos julgarem se podemos servir a pizza ou não...

Cliente 7: Basta! Chega! Vou embora! Não vou esperar mais! Até chegar nos embargos infringentes minha fome vai prescrever...

Cliente 8: Boa noite... vocês têm no cardápio alguma pizza de lula?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Encontro com um amor passado

Esta noite encontrei um amor antigo. Durante um intervalo, pude trocar algumas palavras, mas não falei nada daquilo que gostaria. Ela estava trabalhando num lugar meio estranho, como uma repartição pública, cheia de guichês de atendimento ao público e uma fila dos infernos. Por último passei pelos guichês, um a um, procurando por ela pra dizer algo como "olha, sei que você está ocupada agora, quero conversar contigo mais tarde, eu te espero", mas não a encontrei mais.

É como na vida. Porque este não foi um encontro como os outros. Foi apenas um sonho. Que não abala minhas estruturas, mas desperta corrige isso, idiota, então um sonho desperta, é? acende a curiosidade de saber como ela está, de contar como estive, de colocar minha amizade à disposição. Dizer que valorizo o caminho percorrido para tornar-me o que sou hoje e agradecer o que ela somou a este caminho.

Escrevi uma carta para Ludimila aos 16 anos. Recebi resposta um ano depois, mas foi num momento muito marcante. Outro ano se passou, nos encontramos na internet, começamos a conversar todos os dias. Em menos de uma semana ela ficou muito apaixonada - e eu muito receoso. Acabei jogando um balde de água fria nela, temendo que esta situação aumentasse sem controle e ao mesmo tempo procurando respeitar os sentimentos dela.

19 de março de 2000. No Paraná havia uma menina chorando por mim - e isso era novidade para quem estava acostumado a ser um saco de pancadas. Foi terrível, isso era responsabilidade minha. Preferia mil vezes estar na situação inversa, porque sabia que eu poderia cuidar muito bem de mim mesmo.

Os meses se passaram, a situação se inverteu. Apaixonei-me por ela, sofria pensando na melhor forma de dizê-lo. O sentimento amadureceu. E escolhi um dia. "Será hoje". E justo naquele dia, antes que eu o dissesse, ela me falou que estava interessada em outro rapaz. Quem manda dizer que preferia mil vezes estar na situação inversa? Qualquer coisa que eu dissesse em seguida pareceria uma medida desesperada. Mesmo assim, falei.

Outros meses se passaram. Te amo pra cá, te amo pra lá, Maninho, Maninha, nada que desse namoro.

"Venha passar uns dias aqui em Foz", convidou uma amiga de lá. Prontamente aceitei. Mas eu dependia dos meus pais, minha mãe não gostava da ideia, escolheu as passagens e me permitiu ficar lá... dois dias. E a Ludimila não estaria.

Ainda assim, houve encontro. No aeroporto, em São Paulo, fazendo conexão. Conversamos gostosamente, tiramos um par de fotos juntos, eu não tive a percepção de que aquele era o momento. Agi como um grande amigo. Ao despedir-me, fiquei com a língua coçando para dizer que a amava muito... e não disse.

Fui a Foz, fiquei encantado com a beleza das Cataratas, mas ficou uma pendência: o passeio de barco. Ao ir embora, interpretei errado uma informação sobre a Ludimila. E entrei em desespero, porque passaria vários dias longe de tudo e sem poder falar com ela. Até quis me matar. (Não faltará um idiota que perguntará se eu me matei.)

Atormentado pela possibilidade de perdê-la, entrei em depressão. Mas foi numa noite, no estádio, enquanto espairecia assistindo a um jogo do Gama, que comecei a ter as melhores ideias. Mandaria uma carta todos os dias até completar 25 cartas no dia 25 de fevereiro - a última delas conteria um cartão que havia comprado. Comecei o plano, mas não cheguei ao fim. E o cartão acabou sendo dado a outra pessoa, pouco menos de três anos depois.

Foi no final de 2001 que recebi pela última vez um e-mail dela. Eu havia escrito uma mensagem na qual dizia, entre outras coisas, que ela era inesquecível. Recebi em resposta uma mensagem dizendo que me considerava especial e que esta opinião não iria mudar. Quase nada eu soube dela depois.

Agosto de 2008. Uma viagem de trabalho me levou a Foz do Iguaçu. Fiquei emotivo durante o voo, quase chorei durante o pouso (e não foi pelo fato de as luzes de emergência do avião estarem acesas). Estava cobrindo um evento e vendo muita gente a quem só conhecia por fotos e conversando com um deles, Sidney Pascoutto, falei sobre a situação. "É uma história legal, você devia procurá-la", ele me disse. 

Na tarde seguinte, um sábado, eu estava no hotel e peguei a lista telefônica. Achei o número, liguei algumas vezes, não atendeu. "Pelo menos eu tentei". E no dia seguinte, tratei de resolver a outra pendência: fiz o passeio de barco nas cataratas. Minha alegria era tão grande que não foi reduzida nem pelo atraso que quase me fez perder o voo de volta.

Voltei para casa em estado de graça. Era como se eu pudesse pegar aquela história de 2001, quando fui embora sem fazer o passeio e já entrando em depressão, e escrever um novo final, realizando um sonho e voltando feliz.

Mas Mano - alguém poderia perguntar - o que tanto você queria conversar com a Ludimila?

Mais ou menos a mesma coisa do sonho desta noite. Contar como vai a vida, como Deus tem me tratado bem, o que fiz depois que perdemos contato, falar das alegrias (que são muitas), do meu casamento, do meu bebê, agradecer pela importância que ela teve no meu amadurecimento e colocar minha amizade à disposição. Meu amor de homem só pode ser dado a uma pessoa (e não é ela), mas o carinho do amigo permanece intacto.

Duvido que ela vá ler este texto. Mas se isso acontecer, esta é a mensagem que eu gostaria de transmitir. Os erros e acertos de um jovem maduro porém inexperiente são parte da minha história, valorizo isso, I did it my way. Será um grande presente poder chamá-la de amiga. Exatamente o mesmo que eu quis durante o encontro onírico. (Que legal, sempre sonhei escrever um texto com a palavra onírico!)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Lógica aérea

Tudo começou quando resolvi que, nas próximas férias, quero voltar ao Uruguai. O Nacional joga duas vezes com o Boca Juniors pela Libertadores num espaço de uma semana e fiquei com vontade de ver os dois jogos. Óbvio, tive que ver preços de passagens aéreas. Utilizando um programinha, fiz uma pesquisa e encontrei um preço incrível: ida e volta na casa dos 500 reais pela Tam, Brasília-Montevidéu-Brasília. Quase pulei de alegria.

Há pouco fui entrar no site da Tam. Havia um complicador para comprar esta passagem: preciso obrigatoriamente passar pelo Rio Grande do Sul, obrigatoriamente na volta (e se possível na ida também), porque a Beta e o Davizinho estarão por lá e eu estarei com saudade.

Eu tinha duas opções: fazer um roteiro multicidade ou olhar trecho por trecho em várias companhias aéreas. Escolhi a segunda opção, mas brochei em seguida. Sabe aquele trecho de ida que estava sendo oferecido na Tam por cerca de 250 reais se eu comprasse também a volta? Pois é, pra comprar só a ida o preço era superior a mil reais. Isso mesmo, mil reais.

Não consigo entender qual é a lógica que está por trás disso. Porque se eu comprar só a ida, a Tam continua podendo vender pra outra pessoa o assento no voo de volta (e ainda tem dois meses pra isso). No entanto, esta opção custa mais que o dobro da outra, na qual um assento em cada voo fica ocupado. Perguntinha cretina: será que eu posso comprar ida e volta, "perder" o voo de volta e ser reembolsado?

Só que a sacanagem não acaba aqui. Precisarei ir de Montevidéu para Porto Alegre. Em 2010 eu estava fazendo o mesmo, mas por causa de uma greve geral a finada Pluna mudou meu voo e me fez voar Montevidéu-Curitiba-Porto Alegre. Em 2013, sem nenhuma greve geral (e tomara que sem nenhuma paralisação de aeroviários, controladores de voo ou funcionários) e sem eu entender qual é a lógica, a Tam só tem opções com escala em... Guarulhos. Isso mesmo: você vai do Uruguai até São Paulo (um voo de mais de duas horas e meia) pra depois voltar ao Rio Grande do Sul (uma hora e meia de voo). Isso é que é paixão por voar...

A Gol tem a opção de um voo de Montevidéu pra Porto Alegre na data que eu preciso. Mas custa quase R$ 600. Já a viagem completa pela Tam, incluindo este infame voo com escala em Guarulhos, custa R$ 1.045.

Conclusão: amanhã vou aborrecer algum agente de viagens. Eu, a Gol e a Tam vamos deixá-lo... tantam.