- Manoel, você está sabendo que o hotel é bem simples, né?
A Jane, que estava fazendo minha reserva, queria ter certeza da minha escolha: um duas estrelas no qual estariam hospedados mais dois colegas de trabalho. Olhei outros hotéis, também baratos; mas neste eu teria a companhia de dois colegas no café da manhã. Além disso, homem dorme em qualquer tranqueira. Uma vez dormi num hotel de R$ 25 ao lado da rodoviária de Santana do Livramento. Então, não havia problema algum. Além do mais, eu estaria trabalhando quase o tempo todo e o hotel tinha internet.
O voo de Brasília a Confins durou quase uma hora. Mas havia uma segunda viagem pela frente, porque o busão do aeroporto para Belo Horizonte levava um pouco mais do que isso no trajeto. Quem vai de avião a BH faz obrigatoriamente duas viagens. A primeira placa que lembro de ter visto dizia: Belo Horizonte 36 km.
Deixamos algumas coisas (e pessoas) no local do evento em que trabalharíamos e fui com os outros dois para o hotel. Ficava na mesma rua, uns 700 metros mais pra baixo. Claro, fomos caminhando, arrastando as malas, derretendo sob o sol belorizontino.
Depois de preencher todos os papéis na recepção, entramos no elevador. Fernando, Antonio, eu... e um funcionário do hotel. Ele puxou com a mão uma grade para fechar a porta do elevador, acionou uma alavanca para fazê-lo subir, parou-o no primeiro andar (com um pequeno degrau), puxou a grade para abrir a porta - tudo isso enquanto nós observávamos, com alguma surpresa, o funcionamento da velharia.
O rapaz indicou os quartos a cada um. Embora a Jane tivesse pedido quartos com ar condicionado, os nossos tinham apenas um ventilador de teto. "Pelo menos fica em cima da cama", pensei enquanto via meu quarto. O Fernando não teve a mesma alegria: ficou com medo de que a luminária, acoplada ao ventilador, caísse em cima dele, de tanto que balançava.
Fomos ao trabalho. Voltamos todos cansados, querendo dormir. Pelo menos o lanche do hotel estava gostoso. Fiquei escrevendo matéria no quarto - mas não pude subi-la no mesmo dia porque não consegui acessar a internet do hotel. Perto da 1 da madrugada, deitei-me. Só que fazia muito calor, a única janela não servia pra nada e o ventilador também não ajudava. Devo ter passado mais de uma hora rolando na cama antes de pegar no sono. O Fernando contou que acordou de madrugada e que viu pela janela que o lugar era barra pesada (digo o endereço para que os belorizontinos possam rir de mim: rua Espírito Santo, perto do número 200).
Quinta-feira. O café da manhã era servido no segundo andar, ao qual só era possível chegar de escada. Isso mesmo: para o primeiro andar a subida era de elevador; para o segundo, de escada. Se aquele prédio pega fogo, todo mundo vira churrasco. E, já que falei de comida, o desjejum era servido no espaço correspondente ao hall do primeiro andar, com quartos do lado e tudo mais. Comi bem e fui trabalhar.
Alguém deve ter comentado com a Jane sobre a noite mal dormida, porque ainda pela manhã ela telefonou para o hotel e conseguiu um quarto triplo com ar condicionado. Então, no intervalo do almoço, fui com o Antonio para ver como era isso. Entramos, olhamos, realmente tinha ar condicionado, três camas de solteiro, uma mesa com cadeira (achei que seria ótima para trabalhar de madrugada), aprovamos a mudança de quarto, carregamos as bagagens, condenamos o colega ausente a ficar com a cama do meio e voltamos ao evento.
- Fernando, fomos lá, vimos o quarto, aprovamos e transportamos as bagagens.
- Vocês olharam se o banheiro tinha porta?
Não, não havíamos prestado atenção a este detalhe. Efetivamente, nos quartos da primeira noite, nenhum de nós tinha tido um banheiro com porta. Mas, pelo menos no meu quarto, ele ficava no fundo, guardando alguma privacidade. Quando voltei, no início da noite, doido de vontade de tomar uma ducha, vimos que o banheiro não apenas não tinha porta, como ficava totalmente virado para... a porta do quarto. Isso mesmo: se alguém abrisse a porta do quarto, de lá de fora daria pra ver o banheiro todo.
Queria dar uma saída à noite, comer uma pizza, fazer qualquer coisa. Não conhecia a cidade, por isso cheguei a perguntar a um taxista alguma sugestão de lugar bom pra sair. "Ah, não tem. Os lugares bons que tinha foram fechando todos". Será uma versão mineira do Seu Lunga? Em 2014 tem Copa do Mundo, é este o tratamento que os turistas vão receber?
Eram 9 da noite quando chamei um táxi. "Olha, eu não conheço a cidade, por favor me leve para algum lugar legal de ver à noite". O cara me levou até a lagoa da Pampulha. Bela escolha, realmente gostei e pedi pra descer ao lado de um parque de diversões onde havia uma roda gigante digna deste nome. Com 36 metros de altura (sem contar a altura natural do parque), proporcionava uma bela vista da lagoa; do outro lado estava o Mineirão; lamentei estar sem uma câmera, mas por uma questão de princípios eu não levaria a que uso a trabalho.
Depois de sair do parque, caminhei um pouco ao lado da lagoa, passei em frente à famosa igrejinha (o que tinha de casalzinho se agarrando ao lado dela não era uma coisa muito santa), pensei em vários postais que tenho deste lugar e, após cerca de meia hora, entrei em outro táxi. "Olha, conversei com um taxista e ele me recomendou uma pizzaria chamada Guarani, é boa mesmo?", perguntei. Diante da resposta afirmativa, pedi que ele me levasse para lá.
"Onde é que eu fui parar", pensei enquanto entrava naquele lugar com jeito de boteco. Pedi minha pizza e, enquanto esperava, observei o entra e sai de pessoas - algumas, inclusive, com roupa social. Isso mostrou que, apesar da aparência ruim, o lugar era mesmo apreciado. E com motivos, porque a pizza estava gostosa. Não era nota 10, mas tinha um sabor diferente e único.
De volta ao hotel, tinha que trabalhar. Coloquei o computador na mesa, peguei o modem do Fernando e fui escrever matéria. A cadeira era tremendamente desconfortável e, depois de suportá-la por um tempo, optei por escrever na cama. Uma hora depois o sono era tanto que simplesmente coloquei o computador no chão e adormeci.
Sexta-feira. O horário não era tão apertado como o do dia anterior, por isso pudemos acordar um pouco mais tarde. Enquanto os colegas de quarto foram para o café, eu falei que iria mais tarde, para publicar a matéria que estava terminando de escrever. Em menos de 10 minutos os dois estavam de volta.
- Comeram rápido, hein!
- Você não está entendendo. O café da manhã está acabando.
Pensei que fosse bobagem, mas quando cheguei ao segundo piso, todas as mesas tinham pratos sujos, o suco de laranja estava acabando e até mesmo o queijo havia acabado. Céus, como é que o queijo pode acabar em qualquer lugar de Minas Gerais??? É o fim do mundo, uai! Comi... um pão com manteiga, e fui trabalhar.
No fim do dia, após terminar o evento e fazer o que deveria ser feito, fui a um shopping comprar algum presentinho para a Beta. É diferente entrar num shopping em que as lojas não são as mesmas de todos os outros shoppings que conheço. Comprei um livro com imagens de Minas, aproveitei para lanchar rapidamente e fui ao hotel buscar minhas tralhas para ir até o ponto em que se pega o busão para viajar até o aeroporto de Confins.
(Eu já havia comprado um presente para mim mesmo: uma quantidade caprichada de postais de Minas Gerais. O pacote tinha uns 200 e o Sérgio Ricardo, da Postais de Minas, gentilmente foi encontrar-me no hotel pra levar a encomenda e ainda fez um preço excelente)
É claro que havia muito mais coisas pra conhecer e o tempo numa viagem de trabalho é escasso. Mas é evidente também que esta cidade tem muitos desafios para enfrentar, especialmente pensando num evento como a Copa do Mundo de 2014. O que posso dizer é que Belo Horizonte é interior. Mas é um interior tamanho família.