segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Kato, Schumacher e a luta pela vida

Talvez o leitor tenha acompanhado pela imprensa a história do acidente do Michael Schumacher. Desde o domingo do acidente (29/12), quando as notícias informavam uma piora no quadro de saúde, tenho procurado notícias a respeito. Naquele dia imaginei que uma notícia mais grave podia sair a qualquer momento. Fui dormir às 3 da madrugada.

Depois dos primeiros procedimentos (inclusive uma cirurgia) e análises de exames, vieram os informes médicos. Crítico, mas estável. Duas palavras que estão sendo muito repetidas nos últimos dias. Os médicos não dão boletins desde a última terça (31/12). Informações novas são transmitidas pela porta-voz Sabine Kehm (um aplauso para ela por sua atuação profissional) e ela inclusive desautorizou a fala de Philippe Streiff, ex-piloto de Fórmula 1, que disse que a vida de Schumacher não está mais em risco. Hoje um jornal francês já trouxe outra informação dizendo que foi feita uma tomografia no último sábado e o resultado foi ruim. Ninguém confirmou nem desmentiu ainda.

Capacete rachado. Estado crítico, mas estável. Novidades positivas nos dois ou três primeiros dias, e depois um longo tempo sem novos boletins médicos. Algum mistério em relação às circunstâncias da batida. Tudo isso me faz recordar um fato ocorrido há dez anos e que foi muito marcante pra mim: o acidente do japonês Daijiro Kato, em Suzuka, na prova que abriu a temporada 2003 da MotoGP. Da mesma maneira, esperei notícias até alta madrugada. Foram duas semanas entre o acidente e a morte e todos os dias eu tinha que ler um "estável". Até por isso fui surpreendido pela notícia da morte, porque imaginei que, se ela viesse, primeiro teria que desaparecer a palavra "estável" dos boletins. E não foi assim.

Relutei em escrever estas linhas por dois aspectos. Primeiro, pode passar a sensação de que estou "matando" o Schumacher - e isso mum momento em que todos estão com as emoções afloradas. Nada disso. Apenas comparo a informação existente com uma experiência já vivida e constato algumas semelhanças. Ninguém quer que a morte aconteça, a esperança existe até o final (e às vezes até depois do final: o ucraniano Oleg Konin pintou um quadro com Ayrton Senna levantando do carro após o acidente na Tamburello). E segundo, não estou na França, não sou médico, não tive acesso a exames - e se vários médicos não estão opinando porque não viram os exames, quem sou eu pra querer dizer qualquer coisa? Sei que, sem isso, a análise fica limitada. Estou operando com duas matérias primas apenas (e elas não me permitem pintar um quadro de Konin): notícia e experiência.

A notícia você provavelmente já leu. A experiência vai nas linhas abaixo: é um texto escrito em 23 de abril de 2003, falando sobre a cobertura da morte do Daijiro Kato. Na época eu era estagiário no site F1 na Web e trabalhava com o Thiago Arantes (hoje na ESPN) e o Gabriel Vilela (por onde andará?). Coloquei alguns negritos que remetem ao caso do Schumacher.

Força, Schumacher!

*       *       *

Infelizmente, o Daijiro Kato acabou não resistindo aos ferimentos provocados pelo acidente em Suzuka. Pessoalmente, a notícia me entristeceu bastante por dois motivos: primeiro, porque eu cobri o acidente desde que ele aconteceu. Segundo, porque este foi o primeiro acidente fatal que cobri como jornalista. Eu já havia lido algo sobre como alguns jornalistas cobriram o acidente do Senna em 1994 e pensei que, em proporções menores, estava vivendo algo parecido. Sei que o tema do Kato pode acabar enchendo a paciência se for muito batido, mas nesta coluna eu quero fazer um retrospecto de tudo o que isto representou para mim.

6 de abril – Eu não estava escalado para a transmissão, mas fui assistir à corrida. Trocava informações com meu amigo Jordi, de Barcelona, apaixonado pelo esporte motor. Quando vimos o acidente, foi ele quem me falou que o acidentado era o Kato. Chegamos a temer pelo pior quando vimos a imagem de Kato sendo transportado, com um lençol encobrindo a filmagem. Procurei tudo o que pude sobre o caso, troquei informações com o Jordi, escrevi várias notícias e, naquele dia, fui dormir às 5 da manhã, já que no dia seguinte tinha o GP do Brasil e eu não acordaria se fosse dormir mais tarde. E, logo que acordei, abri o site para ver se tínhamos mais novidades. Naquela noite, batendo um e-mail para os colegas de site, falei que achava que o Kato não iria resistir. Mas pensava comigo, “ele não pode morrer”.

8 de abril – Eu fiquei furioso quando o Thiago me contou sobre algumas notícias falando da morte do Kato. Mas ele não havia morrido. Escrevi uma coluna falando sobre isso, que a gente deveria deixá-lo lutar pela vida e não cometer uma infantilidade dessas. Cheguei a pensar em escrever que “atiraram o pau no Kato”, mas achei que não era hora para brincar com isso. Além disso, na terça-feira ele deu os primeiros sinais de melhora. Continuava gravíssimo seu estado, mas já era uma melhora. E eu o mantinha em minhas preces.

9 de abril – As melhoras continuaram. O Kato teve estabilizada a pressão sangüínea. Nós nos alegramos ao escrever as notícias.

10 de abril – Neste dia eu me emocionei, consegui uma notícia em que o pai do Kato falava. Yoshio Ito, da Honda, estava praticamente eliminando o risco de morte súbita. Não tenho medo de dizer, cheguei a chorar. Neste dia, conversando com o Thiago Arantes, nós dizíamos que, se o Kato sobrevivesse, teríamos que conhecê-lo algum dia. Seria uma experiência fantástica.

13 de abril – Tive que ficar com as palavras do doutor Claudio Costa: que, sobrevivendo ou não ao acidente, Kato já havia mostrado ao mundo sua força ao disputar a batalha mais difícil de sua carreira. Naquele domingo eu trabalhei sozinho e fazia já três dias que o Kato continuava sem mudanças no quadro clínico. O Tohru Ukawa mandou uma carta aberta para a imprensa, dizendo que não queria mais falar sobre o caso. É, numa hora assim as pessoas precisam de tranqüilidade, é um golpe bastante duro. Mas o Kato ainda estava vivo.

15 de abril – O doutor Costa poetizou em seu site que “ao lado da cama, além da esperança, vigia também a amiga paciência”. Ele usou duas palavras-chave: paciência e esperança.

17 de abril – Foi um dia em que eu pensei bastante sobre o caso, há vários dias o Kato não dava nenhum sinal de melhora. Fiquei pensando comigo mesmo, puxa, quanto tempo será que precisaremos esperar até que ele apresente o próximo sinal de melhora? Uma semana? Um mês? Mais tempo? Era realmente triste escrever uma notícia dizendo que não havia nenhuma mudança no quadro clínico do Kato.

19 de abril – Voltando para casa, mais ou menos às 9 horas da noite, resolvi abrir o site e ali estava, na capa, a notícia de sua morte. Eu não esperava de jeito nenhum que fosse neste momento, mas é claro que não foi difícil de acreditar, porque eu vivi esta notícia dia a dia e sabia como ele estava mal. Ainda bem que quem teve que escrever esta notícia foi o Gabriel e não eu, porque esta é uma notícia que eu nunca quereria escrever. Realmente é duro escrever uma notícia ruim, mas isto também faz parte da profissão. O horário e data oficiais da morte foram 0:42 (horário japonês), 20 de abril. Dia do meu aniversário.

22 de abril – O Thiago escreveu algumas notícias de declarações de pilotos no dia anterior, eu escrevi sobre o enterro. No dia 22 o Kato foi enterrado, escrevi também notícias sobre homenagens. Gente que depositava flores em Suzuka e nas motos e fotos que estavam em exposição na sede da Honda. Gente para quem ele representava muito: a esperança do título mundial para o Japão na principal categoria do motociclismo mundial.

Quero fazer duas considerações. Se eu não fosse jornalista, talvez o Kato não representasse muito para mim, porque eu até assistia MotoGP de vez em quando, mas não acompanhava, não sabia nem como era a pontuação daquilo, até começar a trabalhar com a categoria. E se o Kato não tivesse passado por este acidente, eu saberia muito menos sobre ele do que sei hoje. O piloto morreu, mas o exemplo e as lições deixadas não morrem enquanto tudo isso for lembrado.

Agora, o jornalista Manoel se cala e quem fala as próximas palavras é o ser humano Manoel. As pessoas são o que temos de mais precioso no mundo. O Kato não está vivo para ver as homenagens prestadas pelas pessoas (inclusive por mim, ao escrever esta coluna). Vamos valorizar mais as pessoas que estão perto de nós. Não vou fazer catastrofismo dizendo que não sabemos quanto tempo vai durar cada pessoa. Vou, sim, dizer que quando valorizamos quem está à nossa volta, o sentimento de solidão em cada pessoa diminui e um simples gesto pode melhorar o dia das pessoas. E, se por acaso o tempo levar alguma pessoa, ninguém precisará desesperar-se com a perda; poderá olhar para dentro e dizer: foi bom enquanto durou.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Você valoriza o professor?

"Brasil, vamo' acordar, o professor vale mais que o Neymar". Quem não se lembra deste grito bastante repetido durante os protestos ocorridos em junho deste ano? Todos pensam que o Brasil deve valorizar mais os professores para que, desta maneira, a educação tenha mais qualidade e o país tenha um melhor futuro. Mas... quem é o Brasil?

Impressionante a capacidade que o brasileiro tem de resolver os problemas encontrando soluções para que os outros trabalhem. Valorizar o professor é uma delas. Todos devem valorizar os professores. É consenso. Então, cabe a pergunta: todos quem? Por exemplo, você. Isso mesmo, não adianta olhar para o lado. Você valoriza o professor?

Você, pai! Você valoriza o professor do seu filho? Você o trata como um mestre que tem um papel importante na formação escolar do seu garoto ou como um pobre coitado que não conseguiu uma profissão melhor? Você o trata como uma autoridade na escola ou como um imbecil que vive tolhendo a genialidade inata do seu filho? Quando seu filho tira uma nota baixa, você dá uma dura nele ou no professor?

Você, aluno universitário! Quem é o professor pra você? É um mero picareta que fica tagarelando na aula por não ter nada melhor pra ensinar? É um cara chato que dá uma aula maçante sobre um tema que você não está interessado e que nem imagina por que faz parte do currículo (como "Leitura e Produção de Textos") e que você assiste apenas metade da aula para, na outra metade, sair para jogar truco com os colegas? Ou é alguém que tem algo a ensinar se você tão somente tiver a disposição para aprender?

Você, aluno de segundo grau! Você valoriza seu professor? Ou não perde a chance de zoar com a cara dele, colocar um rabo de papel no jaleco, ficar apontando lanternas de laser para o quadro, enrolar o cara fingindo que presta atenção na aula pra depois chegar na prova e ficar contente porque tirou 6,5? Seu professor vale mais do que o Neymar? Você o respeita como autoridade na sala de aula ou deleita-se em desafiá-lo, mostrar que é mais esperto do que o trouxa e que não vai se submeter à ordem dele?

E você, aluno de primeiro grau! Valoriza o seu professor? Ou quer passar a aula toda desenhando, trocando figurinhas, falando besteira com o colega do lado e fingindo que está aprendendo? Suas notas são responsabilidade sua ou foi ele que te ferrou? Você o pinta como um diabo quando fala dele para os pais? Você está na escola para aprender com ele ou para impor os seus saberes?

Com tudo isso, existem bons e maus professores, existem os caras que acertam e os que erram (e eu poderia apresentar uma coleção de pérolas de sala de aula). Mesmo assim, você pode valorizar os professores graças à qualidade deles ou também pode valorizá-los apesar da qualidade. Seja você a mudança que quer ver no seu país.

Feliz Dia do Professor!

P.S.: Aqui está a professora que me alfabetizou. Tinha apenas 17 anos e minha turma foi a primeira da sua carreira, mas ela fez um belo trabalho. Dezoito anos depois voltei à cidade de Araguari para encontrá-la e agradecer.

domingo, 6 de outubro de 2013

Inflação do chocolate

Outro dia estava no mercado olhando a prateleira dos chocolates e lembrei de um assunto que, há muito tempo, gostaria de abordar: a inflação do chocolate. Para isso, vamos levar em conta três momentos.

O primeiro deles é abril de 2000. Procurei bastante por um ovo de páscoa Laka - que, na época, era meu chocolate preferido. Num mercado de uma grande rede comprei um ovo de páscoa tamanho 15 por R$ 7,99 e mais uma barra de Laka por R$ 1,99. 

O segundo momento é fevereiro de 2006. Foi nesta ocasião que conheci a Cacau Show e o chocolate ao leite deles, na época chamado Suíço, passou a ser meu preferido (excluindo, obviamente, os chocolates premium). A barrinha dele custava R$ 0,60, mas havia uma promoção que me permitia comprar dois por R$ 1,00 (ou, como eu fiz várias vezes, dez por R$ 5,00).

O terceiro momento é quinta-feira, quando parei em frente à prateleira de chocolates no mercado. A barra de Laka custa R$ 4,69. Já o ovo de páscoa tamanho 15 custou R$ 19,99 em abril. E a barrinha de chocolate ao leite da Cacau Show custa R$ 1,25, mas há uma promoção que te permite comprar cinco por R$ 5,00.

A pergunta é: o preço dos chocolates acompanhou os índices de inflação? Vamos verificar isso com a calculadora do UOL, usando como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

No caso da barra de Laka que custava R$ 1,99, a inflação até agosto de 2013 foi de 139,77% e o preço corrigido seria de R$ 4,77. Logo, o preço do Laka subiu mas ficou abaixo da inflação do período, certo? ERRADO! Porque a barra que tantas vezes fez minha felicidade pesava 200 gramas, mas hoje ela pesa apenas 170 gramas. Roubaram 15% da minha alegria. Usando um termo bíblico: filho da mulher perversa e rebelde! Fazendo uma regra de três com o peso, o preço da barra de 200 gramas seria de R$ 5,51. O Laka subiu 37% acima da inflação (176,88% contra 139,77%).

O ovo de páscoa tamanho 15 custava R$ 7,99. Aplicando a inflação até abril de 2013 (138,19% - não me culpem, é que não se vendem ovos de páscoa fora da época), o ovo custaria R$ 19,03. Logo, o aumento foi acima da inflação. O leitor pode ponderar que pelo menos o ovo de páscoa tamanho 15 continua sendo o mesmo produto, certo? ERRADO! Ele encolheu ainda mais do que a barra! Um ovo que pesava 240 gramas em 2000 hoje pesa 196 gramas. Redução de 20% no tamanho! Filho da mulher mais perversa e rebelde ainda!!! Fazendo a regra de três novamente, o preço do ovo de 240 gramas seria de R$ 24,99. O ovo de páscoa tamanho 15 teve uma alta de 74% acima da inflação (212,76% contra 138,19%).

Pelo menos no caso da Cacau Show o produto não mudou de tamanho: a barrinha continua pesando 20 gramas. Dei uma colher de chá para a inflação e calculei o período de dezembro de 2005 até agosto último. Ainda assim, a inflação foi muito inferior à alta do chocolate: 49,14%. Já o preço do chocolate cresceu 108,33% no mesmo período. Se eu der mais uma colher de chá e escolher o preço com promoção, a alta seria de 100%. Só que mesmo a promoção não vale mais pra quem quer comprar apenas duas barrinhas. Agora tem que comprar cinco. Então, se eu fosse cretino e calculasse o preço baseado nisso, seria uma alta de 150% contra uma inflação de R$ 49,14% - ou seja, 100,86% acima da inflação! Mas eu estou muito bonzinho e vou considerar a alta de 100% - ainda assim, 50,86% acima da inflação. A barrinha, partindo do preço de R$ 0,60, estaria custando R$ 0,89 se apenas tivesse acompanhado a inflação do período.

Conclusão: o índice de inflação do chocolate não é científico. Além disso, é natural que alguns produtos subam acima da inflação e outros abaixo. Mas não seria nenhum exagero desconfiar dos índices oficiais. Se eles são maquiados eu não sei. Mas barra de Laka e o ovo de páscoa são (nota: a barra de chocolate Garoto, que um dia já pesou 200 gramas, acaba de ser encolhida de 180 para 150 gramas).

E no mercado... bom, comprei uma barra importada de chocolate belga. Além de saborosa, ela pesa 200 gramas.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pizzaria Suprema

AVISO LEGAL BACANA: ESTE É UM TEXTO DE HUMOR. EMBORA TENHA INSPIRAÇÃO NA REALIDADE, TRATA-SE DE UMA CENA FICTÍCIA, QUE NÃO TEM A OBRIGAÇÃO DE SER FIEL AOS FATOS (MESMO PORQUE JÁ EXISTEM PESSOAS SUFICIENTES CUIDANDO DOS FATOS). SE VOCÊ É ZANGADO, MAL HUMORADO, POLITICAMENTE INCORRETO, SE ESTE MATERIAL OFENDE VOCÊ OU SE VOCÊ FAZ PARTE DO SINDICATO DOS PIZZAIOLOS, NÃO LEIA. RIDENDO CASTIGAT MORES. FAÇA HUMOR, NÃO FAÇA A GUERRA. E SE GOSTAR DE PIZZA, COMA UMA DE AZEITONAS EM MINHA HOMENAGEM.

*       *       *

Garçom: Bem vindo à Pizzaria Suprema. Aqui está o cardápio.

Cliente 1: Vamos ver... que pizza você me recomenda?

Garçom: Há pizzas para todos os gostos, com sabores variados, com poucos ou com muitos ingredientes.

Cliente 1: Qual é a pizza mais caprichada que vocês têm?

Garçom: Marcos Valério. Tem tudo quanto é ingrediente que você imaginar: tomate, bacon, palmito, alcaparras, lingüiça mineira, corrupção ativa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, peculato, azeitonas, queijo Minas, tem de tudo. Mas, por algum motivo, parece que ninguém gosta muito dela.

Cliente 1: Não, essa pizza é forte demas. Não tem alguma mais leve?

Garçom: Aí no alto do cardápio tem a Geiza Dias. Só muçarela, não tem nem molho de tomate. Mas, pra ser sincero, até os que gostam dela dizem que é uma pizza mequetrefe.

Cliente 1: Bom, vou dar uma olhada e logo escolho uma.

Cliente 2: Garçom!!! Que droga de pizza é essa que vocês me serviram? Ela não tem nada, só a massa!

Garçom: Qual foi o seu pedido?

Cliente 2: Duda Mendonça. O cardápio diz que ela tem muçarela de búfala, pomodori pelati, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e vem acompanhada de um vinho Romanée Conti!

Garçom: Lá na cozinha os juízes, digo, os pizzaiolos não viram indícios de nada disso.

Cliente 2: Mas a própria pizza confessa que recebeu dinheiro no exterior!

Garçom: Sinto muito, senhor, não podemos fazer nada.

Cliente 1: Garçom! Eu ainda estou escolhendo, mas aqui na pizza Lewandowski o cardápio não diz quais são os ingredientes.

Garçom: Está vendo a pizza Barbosa, logo acima? A pizza Lewandowski é exatamente ao contrário. Tudo o que tem na pizza Barbosa não tem na Lewandowski e tudo o que não tem na Barbosa tem na Lewandowski.

Cliente 1: E essa Toffoli, logo abaixo?

Garçom: É idêntica à Lewandowski, mas com uma diferença básica: não demora. Mas a qualidade também não é a mesma.

Cliente 1: Ok, então prepare pra mim uma Lewandowski.

Cliente 3: Garçom, já fiz minha escolha. Traga por favor uma pizza José Janene...

Garçom: Sinto muito, mas ela não faz mais parte do cardápio.

Cliente 3: Mas ela está aqui na lista, é uma pizza de coração.

Garçom: Sim, era uma pizza muito pedida, com sabor de valerioduto e dinheiro lavado. Mas nós paramos de trabalhar com alguns ingredientes e a pizza José Janene não faz mais parte do cardápio. 

Cliente 3: Tem alguma outra cujo sabor seja regado a lavagem de dinheiro?

Garçom: Sim, tem a Professor Luizinho.

Cliente 3: Ok, traga-me esta.

Cliente 4: Garçom, eu estava olhando o cardápio... as pizzas Marcos Valério e Ramon Hollerbach têm os mesmos ingredientes. Qual é a diferença entre as duas?

Garçom: Basicamente a quantidade. A Valério é mais forte, a Hollerbach é um pouco mais suave. Se você preferir tem também a Cristiano Paz, que é parecida, só que sem a evasão de divisas.

Cliente 4: Ok, acho que vou me sentir menos culpado pedindo uma pizza Cristiano Paz. Traga esta, por favor.

Cliente 5: Garçom, faiz favor... tava sentindo um cherim bão dimais da conta. Tem alguma pizza com sabor da roça pro mineirim aqui?

Cliente 5: Olha lá embaixo, à direita, antes das pizzas doces... tem várias pizzas com tempero de Banco Rural. É um tempero legal... digo, ilegal, que realça o sabor de outros ingredientes como corrupção ativa, gestão fraudulenta, evasão de divisas e até formação de quadrilha. Escolha a que mais gostar e me chame.

Cliente 6: Garçom, eu quero uma pizza Roberto Jefferson pra viagem.

Garçom: Não fazemos.

Cliente 6: Como é que é?

Garçom: Não fazemos. Roberto Jefferson é só pra pra comer aqui no restaurante.

Cliente 6: E eu não posso fazer o pedido, pagar à parte a embalagem pra viagem, colocar a pizza dentro da caixa e levá-la pra comer em casa?

Garçom: Não.

Cliente 6: Isso é um absurdo! Qual é a explicação que você me dá pra isso?

Garçom: A pizza Roberto Jefferson não deve ser consumida em regime fechado. No máximo, semiaberto... foi o pessoal da cozinha que decidiu isso.

Cliente 6: Então me traga uma Valdemar Costa Neto.

Garçom: O caso dela é o mesmo. E com uma diferença: quase ninguém gosta da pizza Valdemar Costa Neto.

Cliente 4: Garçom... me diga uma coisa discretamente: eu acabei de ver sair uma pizza com uma montanha de ingredientes. Que pizza é aquela?

Garçom: Delúbio Soares.

Cliente 4: Sério? Que estranho, no cardápio os ingredientes dela eram basicamente os mesmos das pizzas João Paulo Cunha, José Dirceu e José Genoíno...

Garçom: Sim, é verdade. Mas os grandes apreciadores defendem que todas estas pizzas sejam preparadas juntas e, no final, os ingredientes todos sejam colocados na pizza Delúbio Soares.

Cliente 4: Que diferente... e o pessoal da cozinha concorda com isso?

Garçom: Há muitas divergências a respeito...

Cliente 4: Vocês são muito esquisitos...

Garçom: Cliente 1, aqui está a sua pizza Lewandowski.

Cliente 1: Obrigado... mas... o que é isso? Não tem nada em cima da massa?

Garçom: Como eu falei para o senhor, a pizza Lewandowski era exatamente o contrário da Barbosa. Na Barbosa os ingredientes vão em cima da massa. Na Lewandowski a massa é que vai por cima dos ingredientes.

Cliente 1: Mas isso é um absurdo!

Garçom: Eu também acho. Mas precisávamos ser fiéis à receita original...

Cliente 3: Garçom! Esta pizza Professor Luizinho é intragável.

Garçom: Sim, nós sabemos disso... tudo que não presta tem nesta pizza.

Cliente 3: E por que não me avisou disso antes?

Garçom: Você queria uma que tivesse sabor de lavagem de dinheiro. Eu apenas indiquei uma...

Cliente 3: Mas nem mesmo este sabor eu senti na pizza.

Garçom: É porque lá na cozinha os pizzaiolos acham que ela não tem nada disso...

Cliente 3: Mas esta pizza é um nojo! Será que não existe ninguém pra impedir vocês de servirem essas pizzas? A vigilância sanitária tem que fazer alguma coisa!

Garçom: A vigilância sanitária eu não sei, mas o Roberto Gurgel quis impedir a gente de servir quase todas as nossas pizzas no ano passado. Pra ele, só podia servir a Antonio Lamas e a Gushiken - e essa última, infelizmente, saiu do cardápio também...

Cliente 7: Garçom! Eu não suporto mais esperar! Já faz mais de duas horas que pedi uma pizza José Dirceu  e vocês até agora não trouxeram!

Garçom: Calma, amigo! Você precisa entender que ela é feita com ingredientes selecionados e o processo demora mesmo! Até a Procuradoria realizar a Denúncia, a nossa cozinha aceitar, os pizzaiolos julgarem se podemos servir a pizza ou não...

Cliente 7: Basta! Chega! Vou embora! Não vou esperar mais! Até chegar nos embargos infringentes minha fome vai prescrever...

Cliente 8: Boa noite... vocês têm no cardápio alguma pizza de lula?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Encontro com um amor passado

Esta noite encontrei um amor antigo. Durante um intervalo, pude trocar algumas palavras, mas não falei nada daquilo que gostaria. Ela estava trabalhando num lugar meio estranho, como uma repartição pública, cheia de guichês de atendimento ao público e uma fila dos infernos. Por último passei pelos guichês, um a um, procurando por ela pra dizer algo como "olha, sei que você está ocupada agora, quero conversar contigo mais tarde, eu te espero", mas não a encontrei mais.

É como na vida. Porque este não foi um encontro como os outros. Foi apenas um sonho. Que não abala minhas estruturas, mas desperta corrige isso, idiota, então um sonho desperta, é? acende a curiosidade de saber como ela está, de contar como estive, de colocar minha amizade à disposição. Dizer que valorizo o caminho percorrido para tornar-me o que sou hoje e agradecer o que ela somou a este caminho.

Escrevi uma carta para Ludimila aos 16 anos. Recebi resposta um ano depois, mas foi num momento muito marcante. Outro ano se passou, nos encontramos na internet, começamos a conversar todos os dias. Em menos de uma semana ela ficou muito apaixonada - e eu muito receoso. Acabei jogando um balde de água fria nela, temendo que esta situação aumentasse sem controle e ao mesmo tempo procurando respeitar os sentimentos dela.

19 de março de 2000. No Paraná havia uma menina chorando por mim - e isso era novidade para quem estava acostumado a ser um saco de pancadas. Foi terrível, isso era responsabilidade minha. Preferia mil vezes estar na situação inversa, porque sabia que eu poderia cuidar muito bem de mim mesmo.

Os meses se passaram, a situação se inverteu. Apaixonei-me por ela, sofria pensando na melhor forma de dizê-lo. O sentimento amadureceu. E escolhi um dia. "Será hoje". E justo naquele dia, antes que eu o dissesse, ela me falou que estava interessada em outro rapaz. Quem manda dizer que preferia mil vezes estar na situação inversa? Qualquer coisa que eu dissesse em seguida pareceria uma medida desesperada. Mesmo assim, falei.

Outros meses se passaram. Te amo pra cá, te amo pra lá, Maninho, Maninha, nada que desse namoro.

"Venha passar uns dias aqui em Foz", convidou uma amiga de lá. Prontamente aceitei. Mas eu dependia dos meus pais, minha mãe não gostava da ideia, escolheu as passagens e me permitiu ficar lá... dois dias. E a Ludimila não estaria.

Ainda assim, houve encontro. No aeroporto, em São Paulo, fazendo conexão. Conversamos gostosamente, tiramos um par de fotos juntos, eu não tive a percepção de que aquele era o momento. Agi como um grande amigo. Ao despedir-me, fiquei com a língua coçando para dizer que a amava muito... e não disse.

Fui a Foz, fiquei encantado com a beleza das Cataratas, mas ficou uma pendência: o passeio de barco. Ao ir embora, interpretei errado uma informação sobre a Ludimila. E entrei em desespero, porque passaria vários dias longe de tudo e sem poder falar com ela. Até quis me matar. (Não faltará um idiota que perguntará se eu me matei.)

Atormentado pela possibilidade de perdê-la, entrei em depressão. Mas foi numa noite, no estádio, enquanto espairecia assistindo a um jogo do Gama, que comecei a ter as melhores ideias. Mandaria uma carta todos os dias até completar 25 cartas no dia 25 de fevereiro - a última delas conteria um cartão que havia comprado. Comecei o plano, mas não cheguei ao fim. E o cartão acabou sendo dado a outra pessoa, pouco menos de três anos depois.

Foi no final de 2001 que recebi pela última vez um e-mail dela. Eu havia escrito uma mensagem na qual dizia, entre outras coisas, que ela era inesquecível. Recebi em resposta uma mensagem dizendo que me considerava especial e que esta opinião não iria mudar. Quase nada eu soube dela depois.

Agosto de 2008. Uma viagem de trabalho me levou a Foz do Iguaçu. Fiquei emotivo durante o voo, quase chorei durante o pouso (e não foi pelo fato de as luzes de emergência do avião estarem acesas). Estava cobrindo um evento e vendo muita gente a quem só conhecia por fotos e conversando com um deles, Sidney Pascoutto, falei sobre a situação. "É uma história legal, você devia procurá-la", ele me disse. 

Na tarde seguinte, um sábado, eu estava no hotel e peguei a lista telefônica. Achei o número, liguei algumas vezes, não atendeu. "Pelo menos eu tentei". E no dia seguinte, tratei de resolver a outra pendência: fiz o passeio de barco nas cataratas. Minha alegria era tão grande que não foi reduzida nem pelo atraso que quase me fez perder o voo de volta.

Voltei para casa em estado de graça. Era como se eu pudesse pegar aquela história de 2001, quando fui embora sem fazer o passeio e já entrando em depressão, e escrever um novo final, realizando um sonho e voltando feliz.

Mas Mano - alguém poderia perguntar - o que tanto você queria conversar com a Ludimila?

Mais ou menos a mesma coisa do sonho desta noite. Contar como vai a vida, como Deus tem me tratado bem, o que fiz depois que perdemos contato, falar das alegrias (que são muitas), do meu casamento, do meu bebê, agradecer pela importância que ela teve no meu amadurecimento e colocar minha amizade à disposição. Meu amor de homem só pode ser dado a uma pessoa (e não é ela), mas o carinho do amigo permanece intacto.

Duvido que ela vá ler este texto. Mas se isso acontecer, esta é a mensagem que eu gostaria de transmitir. Os erros e acertos de um jovem maduro porém inexperiente são parte da minha história, valorizo isso, I did it my way. Será um grande presente poder chamá-la de amiga. Exatamente o mesmo que eu quis durante o encontro onírico. (Que legal, sempre sonhei escrever um texto com a palavra onírico!)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Lógica aérea

Tudo começou quando resolvi que, nas próximas férias, quero voltar ao Uruguai. O Nacional joga duas vezes com o Boca Juniors pela Libertadores num espaço de uma semana e fiquei com vontade de ver os dois jogos. Óbvio, tive que ver preços de passagens aéreas. Utilizando um programinha, fiz uma pesquisa e encontrei um preço incrível: ida e volta na casa dos 500 reais pela Tam, Brasília-Montevidéu-Brasília. Quase pulei de alegria.

Há pouco fui entrar no site da Tam. Havia um complicador para comprar esta passagem: preciso obrigatoriamente passar pelo Rio Grande do Sul, obrigatoriamente na volta (e se possível na ida também), porque a Beta e o Davizinho estarão por lá e eu estarei com saudade.

Eu tinha duas opções: fazer um roteiro multicidade ou olhar trecho por trecho em várias companhias aéreas. Escolhi a segunda opção, mas brochei em seguida. Sabe aquele trecho de ida que estava sendo oferecido na Tam por cerca de 250 reais se eu comprasse também a volta? Pois é, pra comprar só a ida o preço era superior a mil reais. Isso mesmo, mil reais.

Não consigo entender qual é a lógica que está por trás disso. Porque se eu comprar só a ida, a Tam continua podendo vender pra outra pessoa o assento no voo de volta (e ainda tem dois meses pra isso). No entanto, esta opção custa mais que o dobro da outra, na qual um assento em cada voo fica ocupado. Perguntinha cretina: será que eu posso comprar ida e volta, "perder" o voo de volta e ser reembolsado?

Só que a sacanagem não acaba aqui. Precisarei ir de Montevidéu para Porto Alegre. Em 2010 eu estava fazendo o mesmo, mas por causa de uma greve geral a finada Pluna mudou meu voo e me fez voar Montevidéu-Curitiba-Porto Alegre. Em 2013, sem nenhuma greve geral (e tomara que sem nenhuma paralisação de aeroviários, controladores de voo ou funcionários) e sem eu entender qual é a lógica, a Tam só tem opções com escala em... Guarulhos. Isso mesmo: você vai do Uruguai até São Paulo (um voo de mais de duas horas e meia) pra depois voltar ao Rio Grande do Sul (uma hora e meia de voo). Isso é que é paixão por voar...

A Gol tem a opção de um voo de Montevidéu pra Porto Alegre na data que eu preciso. Mas custa quase R$ 600. Já a viagem completa pela Tam, incluindo este infame voo com escala em Guarulhos, custa R$ 1.045.

Conclusão: amanhã vou aborrecer algum agente de viagens. Eu, a Gol e a Tam vamos deixá-lo... tantam.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Duas da Agência Brasil

Comento duas matérias publicadas na Agência Brasil que são dignas de nota. A primeira tem esta manchete: "Reunião da Anatel é suspensa por falha em transmissão pela internet". Isso só pode ser piada pronta. Será que agora eles mesmos se dão conta do trabalho de merda fezes que fazem?

A outra é esta: "Para fugir da crise, empresários brasileiros fazem feira no Rio com oferta de imóveis em Portugal". Não vou falar sobre a extensão da manchete, que é um absurdo. Tem coisa mais divertida que isso. A pérola é esta:

“Nós não temos saída. Acabou o mercado interno. Isso não quer dizer que não possa voltar, mas não vai ser aquela euforia de compras que foi no passado”, disse Arnaldo Grossaman, um dos empresários responsáveis pelo evento e erradicado há mais de 20 anos em Portugal.

Prestou atenção na cagada bobagem? O empresário é ERRADICADO em Portugal? Ele foi extirpado? Foi arrancado pela raiz? O indivíduo em questão é radicado, não erradicado.

Como a Agência Brasil é bem transparente, publicou o nome do repórter que escreveu esse negócio (Gilberto Costa) e da revisora que não corrigiu (Lilian Beraldo). E sabe qual é o pior de tudo? Quem paga por isso é você. Sou eu. É o contribuinte.

Interior tamanho família

- Manoel, você está sabendo que o hotel é bem simples, né?

A Jane, que estava fazendo minha reserva, queria ter certeza da minha escolha: um duas estrelas no qual estariam hospedados mais dois colegas de trabalho. Olhei outros hotéis, também baratos; mas neste eu teria a companhia de dois colegas no café da manhã. Além disso, homem dorme em qualquer tranqueira. Uma vez dormi num hotel de R$ 25 ao lado da rodoviária de Santana do Livramento. Então, não havia problema algum. Além do mais, eu estaria trabalhando quase o tempo todo e o hotel tinha internet.

O voo de Brasília a Confins durou quase uma hora. Mas havia uma segunda viagem pela frente, porque o busão do aeroporto para Belo Horizonte levava um pouco mais do que isso no trajeto. Quem vai de avião a BH faz obrigatoriamente duas viagens. A primeira placa que lembro de ter visto dizia: Belo Horizonte 36 km.

Deixamos algumas coisas (e pessoas) no local do evento em que trabalharíamos e fui com os outros dois para o hotel. Ficava na mesma rua, uns 700 metros mais pra baixo. Claro, fomos caminhando, arrastando as malas, derretendo sob o sol belorizontino.

Depois de preencher todos os papéis na recepção, entramos no elevador. Fernando, Antonio, eu... e um funcionário do hotel. Ele puxou com a mão uma grade para fechar a porta do elevador, acionou uma alavanca para fazê-lo subir, parou-o no primeiro andar (com um pequeno degrau), puxou a grade para abrir a porta - tudo isso enquanto nós observávamos, com alguma surpresa, o funcionamento da velharia.

O rapaz indicou os quartos a cada um. Embora a Jane tivesse pedido quartos com ar condicionado, os nossos tinham apenas um ventilador de teto. "Pelo menos fica em cima da cama", pensei enquanto via meu quarto. O Fernando não teve a mesma alegria: ficou com medo de que a luminária, acoplada ao ventilador, caísse em cima dele, de tanto que balançava.

Fomos ao trabalho. Voltamos todos cansados, querendo dormir. Pelo menos o lanche do hotel estava gostoso. Fiquei escrevendo matéria no quarto - mas não pude subi-la no mesmo dia porque não consegui acessar a internet do hotel. Perto da 1 da madrugada, deitei-me. Só que fazia muito calor, a única janela não servia pra nada e o ventilador também não ajudava. Devo ter passado mais de uma hora rolando na cama antes de pegar no sono. O Fernando contou que acordou de madrugada e que viu pela janela que o lugar era barra pesada (digo o endereço para que os belorizontinos possam rir de mim: rua Espírito Santo, perto do número 200).

Quinta-feira. O café da manhã era servido no segundo andar, ao qual só era possível chegar de escada. Isso mesmo: para o primeiro andar a subida era de elevador; para o segundo, de escada. Se aquele prédio pega fogo, todo mundo vira churrasco. E, já que falei de comida, o desjejum era servido no espaço correspondente ao hall do primeiro andar, com quartos do lado e tudo mais. Comi bem e fui trabalhar.

Alguém deve ter comentado com a Jane sobre a noite mal dormida, porque ainda pela manhã ela telefonou para o hotel e conseguiu um quarto triplo com ar condicionado. Então, no intervalo do almoço, fui com o Antonio para ver como era isso. Entramos, olhamos, realmente tinha ar condicionado, três camas de solteiro, uma mesa com cadeira (achei que seria ótima para trabalhar de madrugada), aprovamos a mudança de quarto, carregamos as bagagens, condenamos o colega ausente a ficar com a cama do meio e voltamos ao evento.

- Fernando, fomos lá, vimos o quarto, aprovamos e transportamos as bagagens.
- Vocês olharam se o banheiro tinha porta?

Não, não havíamos prestado atenção a este detalhe. Efetivamente, nos quartos da primeira noite, nenhum de nós tinha tido um banheiro com porta. Mas, pelo menos no meu quarto, ele ficava no fundo, guardando alguma privacidade. Quando voltei, no início da noite, doido de vontade de tomar uma ducha, vimos que o banheiro não apenas não tinha porta, como ficava totalmente virado para... a porta do quarto. Isso mesmo: se alguém abrisse a porta do quarto, de lá de fora daria pra ver o banheiro todo.

Queria dar uma saída à noite, comer uma pizza, fazer qualquer coisa. Não conhecia a cidade, por isso cheguei a perguntar a um taxista alguma sugestão de lugar bom pra sair. "Ah, não tem. Os lugares bons que tinha foram fechando todos". Será uma versão mineira do Seu Lunga? Em 2014 tem Copa do Mundo, é este o tratamento que os turistas vão receber?

Eram 9 da noite quando chamei um táxi. "Olha, eu não conheço a cidade, por favor me leve para algum lugar legal de ver à noite". O cara me levou até a lagoa da Pampulha. Bela escolha, realmente gostei e pedi pra descer ao lado de um parque de diversões onde havia uma roda gigante digna deste nome. Com 36 metros de altura (sem contar a altura natural do parque), proporcionava uma bela vista da lagoa; do outro lado estava o Mineirão; lamentei estar sem uma câmera, mas por uma questão de princípios eu não levaria a que uso a trabalho.

Depois de sair do parque, caminhei um pouco ao lado da lagoa, passei em frente à famosa igrejinha (o que tinha de casalzinho se agarrando ao lado dela não era uma coisa muito santa), pensei em vários postais que tenho deste lugar e, após cerca de meia hora, entrei em outro táxi. "Olha, conversei com um taxista e ele me recomendou uma pizzaria chamada Guarani, é boa mesmo?", perguntei. Diante da resposta afirmativa, pedi que ele me levasse para lá.

"Onde é que eu fui parar", pensei enquanto entrava naquele lugar com jeito de boteco. Pedi minha pizza e, enquanto esperava, observei o entra e sai de pessoas - algumas, inclusive, com roupa social. Isso mostrou que, apesar da aparência ruim, o lugar era mesmo apreciado. E com motivos, porque a pizza estava gostosa. Não era nota 10, mas tinha um sabor diferente e único.

De volta ao hotel, tinha que trabalhar. Coloquei o computador na mesa, peguei o modem do Fernando e fui escrever matéria. A cadeira era tremendamente desconfortável e, depois de suportá-la por um tempo, optei por escrever na cama. Uma hora depois o sono era tanto que simplesmente coloquei o computador no chão e adormeci.

Sexta-feira. O horário não era tão apertado como o do dia anterior, por isso pudemos acordar um pouco mais tarde. Enquanto os colegas de quarto foram para o café, eu falei que iria mais tarde, para publicar a matéria que estava terminando de escrever. Em menos de 10 minutos os dois estavam de volta.

- Comeram rápido, hein!
- Você não está entendendo. O café da manhã está acabando.

Pensei que fosse bobagem, mas quando cheguei ao segundo piso, todas as mesas tinham pratos sujos, o suco de laranja estava acabando e até mesmo o queijo havia acabado. Céus, como é que o queijo pode acabar em qualquer lugar de Minas Gerais??? É o fim do mundo, uai! Comi... um pão com manteiga, e fui trabalhar.

No fim do dia, após terminar o evento e fazer o que deveria ser feito, fui a um shopping comprar algum presentinho para a Beta. É diferente entrar num shopping em que as lojas não são as mesmas de todos os outros shoppings que conheço. Comprei um livro com imagens de Minas, aproveitei para lanchar rapidamente e fui ao hotel buscar minhas tralhas para ir até o ponto em que se pega o busão para viajar até o aeroporto de Confins.

(Eu já havia comprado um presente para mim mesmo: uma quantidade caprichada de postais de Minas Gerais. O pacote tinha uns 200 e o Sérgio Ricardo, da Postais de Minas, gentilmente foi encontrar-me no hotel pra levar a encomenda e ainda fez um preço excelente)

É claro que havia muito mais coisas pra conhecer e o tempo numa viagem de trabalho é escasso. Mas é evidente também que esta cidade tem muitos desafios para enfrentar, especialmente pensando num evento como a Copa do Mundo de 2014. O que posso dizer é que Belo Horizonte é interior. Mas é um interior tamanho família. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Mais uma pérola do ENEM

Em outro tempo, quando mandávamos pérolas do ENEM por e-mail, fazíamos referência àquelas atribuídas aos alunos menos brilhantes. Mas a que vai abaixo é terrível, porque não veio de aluno nenhum.

A prova de redação teve como tema "O movimento imigratório para o Brasil no Século XXI". Entre os movimentos apresentados nos textos motivadores está o dos haitianos. Vai de Porto Príncipe ao Panamá, de lá para Quito, depois para Lima, entra no Brasil por Brasileia (AC), vai a Porto Velho e, de lá, para outros estados, conforme este mapa:


Viram o tamanho da cagada bobagem? 

Escrevo uma coluna num site uruguaio e costumo finalizá-la com erros da imprensa: os "vrutos" da semana (o certo é brutos, mas escrevo assim para brutalizar a palavra). Este do ENEM seria um "vruto" campeão do mundo...

Não é uma pérola dos alunos. São os próprios examinadores do grande exame nacional de conhecimentos do nivel médio que colocam Quito na Colômbia!!! Será que não tinha um miserável revisor pra impedir esse mico de nível nacional? Ou será uma versão geográfica do "nós pega os peixe"? A questão ainda dizia: "Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista". Que nota será que tiraria um aluno que defendesse, de forma estruturada e coerente, o seu (e do mundo todo) ponto de vista dizendo que Quito fica no Equador?

No geral, a educação brasileira está em petição de miséria. Antigamente esperava-se que professores (e examinadores) soubessem mais que os alunos. Agora, nem isso é garantido - não é preciso ensinar, qualquer coisa está valendo (e ensinar dá trabalho). É a pedagogia do "tudo pode". Ainda se fosse um professor elaborando sozinho uma prova para aplicar à sua classe no dia seguinte, vá lá, seria uma explicação (embora não uma justificativa); mas fazer nas coxas um exame para o país inteiro, com a antecedência e cuidado que o trabalho requer e o catatau de gente que trabalha nisso? Tenha dó...

Por último, pra não perder a piada: já pensaram se alguém diz ao camarada Rafael Correa que a Colômbia continua violando a soberania do território equatoriano?

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Segredos que todo mundo sabe

Chamadinha de capa no portal Terra: "Veja os cinco segredos de Tite para conquistar o Mundial". É claro que NÃO cliquei na chamada. E nem precisava.

Tite conquistou o Mundial? Não. Então a eficácia dos cinco segredos não está garantida, certo?

Aliás, se segredos fossem, não estariam sendo contados pela imprensa para toda a torcida do Corinthians... e para não-corinthianos também.

Nelson Rodrigues dizia que o carioca é a única pessoa capaz de gritar um segredo para alguém que está do outro lado da rua. Se for como a manchete diz, Tite seria carioquíssimo...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pérolas do ENEM - 2011

Recebi por e-mail, cortesia da Alessandra. Algumas destas pérolas já são conhecidas (como a sifilização e o decente), devem ser parte do folclore relacionado ao assunto. Já as outras podem proporcionar umas boas risadas... ou não, né? Porque a pergunta que veio junto é se isso é pra rir ou chorar...

*       *       *

"Antes da Diuma, o Brasil não teve mulheres presidentes mas várias primeiras-damas foram do sexo feminino".

"Animais vegetarianos comem animais não-vegetarianos".

"Não cei se a presidente está melhorando as endeferenças sociais ou promovendo o sarneamento dos pobres. Me pré-ocupa o avanço regresssivo da violência urbana".

"O Convento da Penha foi construído no céculo 16 mas só no céculo 17 foi levado definitivamente para o alto do morro".

"A História se divide em 4: Antiga, Média, Momentânea e Futura, a mais estudada hoje".

"Bigamia era uma espécie de carroça dos gladiadores, puchada por dois cavalos".

"No começo, SC era muito atrazada mas com o tempo foi se sifilizando".

"A principal função da raiz é se enterrar no chão".

"As aves tem na boca um dente chamado bico".

"A Previdência Social acegura o direito a enfermidade coletiva".

“Ateísmo é uma religião anônima praticada escondido.
Na época de Nero, os romanos ateus reuniam-se para rezar nas catatumbas cristãs".

"A Geografia Humana estuda o homem em que vivemos".

"O nordeste é pouco aguado pela chuva das inundações frequentes".

"Os Estados Unidos tem mais de 100.000 Kilometros de estradas de ferro asfaltadas".

"As estrelas servem para esclarecer a noite e não existem estrelas de dia
porque o calor do sol queimaria elas".

"Hormônios são células sexuais dos homens masculinos".

"Os primeiros emegrantes de SC construiram suas casas de talba".

"Onde nasce o sol é o nacente, onde desce é o decente".

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cartão Postal

Primeiro cartão postal de produção própria. Foto de Corumbá de Goiás, onde estive em janeiro. Impresso em Minas Gerais. Arte da gaúcha Renata Pedroso.